«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

KATHARINE HEPBURN – WONDERFUL KATE


FUNDOU A IMAGEM DA MULHER INDEPENDENTE, LIVRE DOS ESTEREÓTIPOS DE FRAGILIDADE E SUBMISSÃO. EVITAVA ENTREVISTAS E AUTÓGRAFOS, AMOU UM HOMEM COM QUEM NÃO CASOU, GANHOU QUATRO ÓSCARES, UM RECORDE QUE AINDA LHE PERTENCE.

 
Katherine e os seus cinco irmãos foram educados no princípio calvinista de que só os sacrifícios conduzem aos êxitos, nada do que sonhamos ter nos virá parar ao regaço de mão beijada. Os pais ao mesmo tempo que os estimulam a dizer o que pensam e a discutir com argumentos lógicos, como numa espécie de comuna em que as crianças e os adultos, independentemente do sexo, têm direitos iguais, mostram no entanto que há dois líderes. Os mais novos não possuem ainda toda a consciência que lhes permitirá virem a ser cidadãos absolutamente responsáveis pelos seus atos. Assim, dão-lhes umas bofetadas e outras vezes escolhem uns banhos gelados para os chamar à razão. Kate dirá: «Esses banhos deram-me a impressão de que quanto mais amargo é o medicamento melhor faz à saúde.»
Este sentido da utilidade de certos tipos de sofrimento, mais ainda do que o próprio treino da resistência, dar-lhe-á uma força extraordinária. «Nem toda a gente tem a sorte de alguma vez ter percebido como é delicioso sofrer».
Katharine Houghton Hepburn, nasceu em 12 de Maio de 1907 em Hartford, Connecticut. Seu pai era descendente de uma pura linhagem escocesa e urologista de profissão, sua mãe era uma ativista pela igualdade de direitos para as mulheres (aos três anos Kate, já acompanhava a mãe).  Com os privilégios de classe alta da Nova Inglaterra, ela e os irmãos são educados entre tutores privados e escolas escolhidas a dedo. Rapazes e raparigas fazem todo o tipo de desportos. As raparigas espantavam a vizinhança pela liberdade de movimentos que lhes era dada pelos pais, livres-pensadores, nessa Nova Inglaterra do século XIX.
A desgraça caiu sobre a família, quando um dos seus irmãos, com dezasseis anos se enforcou e foi Kate quem o encontrou. A partir dessa altura com a trágica certeza que não há vida para além da morte, deixa de acreditar em Deus. «Acredito apenas que devemos fazer tudo o que podemos pelos outros».
Kate formou-se na Universidade da Pensilvânia em História e Filosofia e tinha grandes aptidões para o desporto. Dois dos seus irmãos serão escritores, outro médico e a irmã cientista. Kate quis ser atriz. O pai reagiu mal, considerando que isso era por vaidade, mas ela bateu-se até ao fim.
O início não foi fácil, começou pelo teatro como secundária.
Com a sua beleza natural, com as formas angulares realçadas por roupas pouco femininas, os seus cabelos arruivados e os seus olhos doces, tudo sublinhado por uma atitude de rapariga indomável que obviamente queria viver como um homem, mesmo assim não lhe faltaram pretendentes. Casou com o empresário Ludlow Ogden Smith, uma decisão que foi um desastre. Ela não tinha jeito para esposa e logo se separaram, embora ficassem amigos para toda a vida.
A sua visibilidade vem a ser reconhecida na peça, «The Worrier’s Husband e é contratada pela RKO, para o filme de Georges Cukor, «Vítimas do Divórcio» de 1932, com a lenda viva, John Barrymore, segue-se «Gloria de um Dia», que lhe deu o primeiro Oscar.
Depois teve uma série de fracassos e a sua reputação de arrogância e mau feitio, acabam por ser razões para o fim do contrato com a RKO, em 1937.
Kate não desarmou e vai trabalhar com o argumentista Philip Barry, numa peça de teatro na Broadway, que depois das boas críticas que teve, tornou-se no filme, «Um Casamento  Escandaloso», com Cary Grant e James Stewart e que teve doze nomeações para o Oscar.
Seguiu-se «As Quatro Irmãs» de Cukor, «As Duas Feras» de Hawks, «Sylvia Scarlett , um filme paradigmático, com o seu ar andrógino, mas com uma vibrante feminilidade.


 
No ano seguinte e depois de um assumido caso com o milionário, Howard Hughes, teve a primeira parceria no cinema com Spencer Tracy, tendo-se seguido mais oito. Juntos são o par mais famoso do cinema americano. Será uma das mais sérias relações amorosas e enquanto Spencer é uma pessoa reservada, Kate é um furação na sua vida. Ela gosta de o picar, faz-lhe frente nas questões mais ridículas, mas é a sua companheira fiel e será a sua enfermeira. Não vivem um sem o outro. Os amigos e colegas diziam: «Kate não admite que ninguém lhe diga o que fazer, mas de Spencer admite tudo».

 
Spencer é católico, embora separado, continua casado e tem dois filhos. Kate diz: «Os homens e as mulheres deviam viver em casa diferentes e visitarem-se de vez enquanto». Em diversos apontamentos biográficos surge a hipótese de serem bissexuais. No caso de Kate a questão põe-se, devido à relação de longa data, que tem com a sua amiga Laura Harding, herdeira do American Express, mas quando fala de amor só se refere a Spencer.
O público adora as discussões dos dois no filme, «A Costela de Adão» e o profissionalismo de ambos em, «Advinha quem vem jantar? (1967)». Durante as filmagens deste filme, já Kate não aceitava tantos papéis, para acompanhar Spencer , que sofre de congestão pulmonar. Este foi o seu último filme, morreu pouco depois de falha cardíaca. Kate viveu com Spencer durante 26 anos, mesmo assim não compareceu ao funeral, por respeito à mulher e aos filhos, assim como não recebeu pessoalmente o Oscar que ganhou pelo seu papel.
Depois dedicou-se mais à fruição da Natureza («O que conta é a vida!»), e ganhou mais dois prémios da academia, por «Leão no Inverno» (1968) e por «A Casa do Lago». 

 
Neste filme notam-se já os efeitos da doença de Parkinson, mas o brilho de Kate ainda é sublime. Neste filme contracena com Henry Fonda, que morre logo a seguir.
Em 1991, escreveu uma auto-biografia, «Me: Stories of My Life» e em 1994 brilha de novo em «O Amor da Minha Vida», é uma velha senhora que vive num local paradisíaco, que aparece na emanação de um romantismo primitivo, simultaneamente frágil, num físico minado pela doença, e forte, na energia que emana. Foi a sua última aparição no cinema, uma actriz que, como nenhuma outra, simboliza a mulher moderna.
Morreu em 2003 com 96 anos. Kate dizia: «Deve ser como um longo sono» ou «A morte? Deve ser um alívio, não teria de estar a dar-lhe uma entrevista».
Greta Garbo poderá ter sido a deusa distante, Marlene a mulher desejada, Katharine foi a grande «lady» do cinema.

Katherine tinha um espírito livre, foi uma mulher que sempre fez o que lhe apeteceu, independente dos homens, dos casamentos, das convivências da sociedade da época. Escreva-se o que se escrever, nunca se poderá dizer o que Katherine representou, como modelo de mulher livre, mas sobretudo como máxima criadora de um novo estilo de representação que permitiria ao cinema atingir os seus anos de ouro.

 
Filmografia e Prémios em:

 

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