«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A FLAUTA MÁGICA - MOZART


A Flauta Mágica foi produzida no séc. XVIII, período histórico em que a linha de pensamento do homem sofria uma mudança radical através do Iluminismo, ideologia que defendia o fim das superstições medievais cultivadas pela Igreja durante a Idade Média e a valorização de uma visão de mundo racional, em que a sabedoria aparece como única possibilidade de justiça e igualdade entre os homens, o que imediatamente coloca em xeque as relações de poder e subordinação da sociedade da época e a legitimidade dos aristocratas e das tiranias.
Nesse contexto, A Flauta Mágica apresenta-se como uma ópera de formação e como uma alegoria para as provações pelas quais o homem precisa de passar para sair das trevas do pensamento medieval em direcção da luz iluminista. Assim, as principais personagens Tamino e Pamina enfrentam os obstáculos impostos pelos membros do Templo da Sabedoria para juntos, no final da ópera, encontrarem a realização plena e a união ideal.
Na sua jornada, o casal conta com a ajuda de Sarastro, soberano que simboliza o homem racional que detém o poder por sua sabedoria – não pela força – e que é capaz de ser sempre justo com qualquer cidadão que busque seus conselhos. Sarastro não é a resposta para a sabedoria, mas o caminho para se chegar até ela, ao guiar o homem na sua jornada pessoal em busca da autonomia e liberdade de pensamento. Nesse sentido o personagem entra em contraste directo com a Rainha da Noite, a vilã da história que figura como tudo aquilo condenado pelo Iluminismo: a superstição, a irracionalidade, a aristocracia, a tirania e a subordinação tanto social quanto intelectual, ao ditar tudo o que seus inferiores devem ou não pensar e fazer.
A ópera também apresenta influência dos ideais da sociedade maçónica – da qual se sabe que Mozart fazia parte –, principalmente no que diz respeito ao ritual de iniciação pela qual passam Tamino e Pamina, composto de diversas provas (tal qual o ritual de iniciação maçónico) que testam o amor e a persistência do casal, recebido sob as bênçãos de toda a fraternidade do Templo da Sabedoria no final da história.



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