«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

terça-feira, 27 de julho de 2010

POESIA DE JORGE LUIS BORGES

SONETO DO VINHO
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Tradução de Anderson Braga Horta
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Em que reino, em que tempo e sob que silenciosa
Conjunção planetária, em que secreto dia
Que o mármore não guardou, surgiu a generosa
E única inspiração de inventar a alegria?
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Ah! com Outonos de ouro a inventaram.
O vinhoVermelho e ardente flui banhando as gerações
Como o rio do tempo, e em seu árduo caminho
Seu cântico nos doa, e seu fogo e seus leões.
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Na jubilosa noite e na jornada adversa
Ele exalta a alegria ou suaviza o espanto.
E o ditirambo que hoje, efusivo, lhe canto
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Disse-o o árabe uma vez, cantou-o outrora o persa.
Vinho, ensina-me a ver a minha própria história
Como se fora já cinza e pó na memória.
BIOGRAFIA DE JORGE LUÍS BORGES: aqui

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LABIRINTOS, ESPELHOS, TIGRES: TEMAS RECORRENTES NA OBRA DE BORGES
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A CHUVA
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A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo frequentou.
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Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
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Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
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que não existe mais. A humedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

REFLEXÃO


Tenho seis regras que me ensinaram tudo o que sei: O quê?, Porquê?, Quando?, Como?, Onde?, e Quem?

Rudyard Kipling - (30 de Dezembro de 1865, em Bombaim, Índia - 18 de Janeiro de 1936); escritor britânico, nascido na Índia. Nobel da Literatura 1907.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O MUNDO MUDOU MUITO...

O Mundo mudou muito, se mudou! Numa lista fornecida pela «Forbes» das 14 mulheres que construíram uma fortuna milionária em todo o mundo, sete delas são chinesas, sendo a mulher mais rica do Mundo Wu Yajun, como directora executiva de uma empresa imobiliária.
Segue-se:
Rosalia Mera – Espanha – Empresária do Ramo Têstil e Saúde – Dona da Zara
Elena Baturina – Rússia – Gestora (plásticos, construção civil e materiais de construção
Doris Fisher – EUA – Fundadora da GAP (roupa)
Xiu Li Hawken – Reino Unido – Gestora (Commercial Holdings)
Oprah Winfrey – EUA – Produtora e Canal próprio de televisão
Giuliana Benetton – Itália – Gestora (Roupa, Restaurantes, portagens, aeroportos)
Chu Lam Yiu – China – Gestora (Sabores e fragrâncias, aplicadas no tabaco, detergentes, produtos alimentares)
Zhang Xin – China – Gestora – Imobiliária
Van Cheung – China – Gestora (reciclagem de papel)

CLARO QUE AS MULHERES AINDA REPRESENTAM SÓ 2% DOS MAIS RICOS.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

GABRIELA MISTRAL


Poetisa chilena (7/4/1889-10/1/1957). Foi a primeira escritora latino-americana a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1945. Sua poesia única e repleta de imagens singulares não mostra influências do modernismo nem das vanguardas. Descendente de espanhóis, bascos e índios, Lucila Godoy Alcayaga nasceu em Vicuña, uma vila do norte do Chile.
Com apenas 15 anos começou a dar aulas. Seu noivo cometeu suicídio em 1907, fato que marcou a obra e vida de Gabriela Mistral, nunca se casou e se dedicou somente ao trabalho. Venceu um concurso literário chileno em 1914 com Sonetos de la Muerte, assinados com o pseudónimo Gabriela Mistral, formado a partir do nome de dois poetas que admirava o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral.
Seu primeiro livro de poesias, Desolación (1922), inclui o poema Dolor, no qual fala da perda do amado. O sentimento de maternidade frustrada aparece nos trabalhos seguintes, Ternura (1924) e Tala (1938). Colaborou na reforma educacional do México e do Chile. Representou seu país como consulesa em Nápoles, Madrid, Lisboa e Rio de Janeiro. Em 1954 publica Lagar.
Leccionou literatura espanhola na Universidade de Colômbia. Morreu em Hempstead, no estado de Nova York.

Há uma agonia de algas,
há uma surdez de areias
um solapamento de águas
e um quebrantamento de ervas.

Sob a noite estamos nós,
as criaturas completas:
os muros brancos e fieis,

o pinhal cheio de essencia,
uma pobre fonte impávida
e uma vidraça em vigília.

Olhando umas para as outras
de vergonha estyremecemos
por nossos joelhos intactos
e nossas frontes perfeitas.

Cai um corpo maternal
roto em ombros e em quadris
Cai numa tela, vencido,
numas tardas cabeleiras.

Ouvem-na tombar seus filhos
como à duna a própria areia,
em filamentos obliquos
atravessando a soleira.

Ninguem susta o desperdício
e nossas mãos quietas,
enquanto baixam seus fios
em um enxame de abelhas

Caem assim extenuados
seus gestos já sem governo
e seu braço se abandona
e sua cor não se lembra

E logo estará sem nome
a mãe que aqui se apresenta
e já não lhe convirão
perfil, nem casta, nem terra.

Entretanto ontem foi uma
que se podia reter
dizendo o nome verídico
de condição verdadeira.

Da fronte aos pés era única
tal o compassso ou a estrela.
Agora já se reparte
por dois teares, duas teias.

Entre margens sugestivas
vacila assim como as ébrias
e agora sobe embebida
de outro ar e de outra ribeira.

Ouve-se um duelo de margens
pela mãe que se nos dera,
de um lado a margem que a arrasta,
de outro a margem que a persegue.

Chega ao tendal dolorido
de seus filhos pela aldeia,
o transe de seu conflito
como de um rio no delta.

AUSÊNCIA

Se vai de ti meu corpo gota a gota.
Se vai minha cara no óleo surdo;
Se vão minhas mãos em mercúrio solto;
Se vão meus pés em dois tempos de pó.
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Se vai minha voz, que te fazia sino
fechada a quanto não somos nós.
Se vão meus gestos, que se enovelam,
em lanças, diante de teus olhos.
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E se te vai o olhar que entrega,
quando te olha, o zimbro e o olmo.
Vou-me de ti com teus mesmos alentos:
como humidade de teu corpo evaporo.
.
Vou-me de ti com vigília e com sono,
e em tua recordação mais fiel já me apago.
e em tua memória volto como esses
que não nasceram nem em planos nem em bosques
.
Sangue seria e me fosse nas palmas
de teu trabalho e em tua boca de sumo.
Tua entranha fosse e seria queimada
em marchas tuas que nunca mais ouço,
e em tua paixão que retumba na noite,
como demência de mares sós.
Se nos vai tudo, se nos vai tudo!

Floco de lã de minha carne,
que em minha entranha eu teci,
floco de lã friorento,
dorme apegado a mim!
A perdiz dorme no trevo
escutando-o pulsar:
não te perturbem meus alentos,
dorme apegado a mim!
Ervazinha assustada
assombrada de viver,
não te soltes de meu peito:
dorme apegado a mim!
Eu que tudo o hei perdido
agora tremo de dormir.
Não escorregues de meu braço:
dorme apegado a mim!

Somos culpados
de muitos erros e faltas
porém nosso pior crime
é o abandono das crianças
negando-lhes a fonte
da vida
Muitas das coisas
de que necessitamos
podem esperar.
A criança não pode
Agora é o momento em que
seus ossos estão se formando
seu sangue também o está
e seus sentidos
estão se desenvolvendo
A ela não podemos responder “amanhã”
Seu nome é hoje.


DAME LA MANO

Dame la mano y danzaremos;
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...

El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.

Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina y nada más...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O MELHOR É SER POSITIVISTA...


Dona Cacilda é uma senhora de 92 anos, miúda, é tão elegante, que todos dias às 08 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente pintada, apesar de sua pouca visão. E hoje ela se mudou para uma casa de repouso: o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução. Depois de esperar pacientemente duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a empregada veio dizer que seu quarto estava pronto. A empregada foi descrevendo o quarto, enquanto subiam no elevador: quartinho minúsculo, com cortinas floridas na janela. A senhora interrompeu com o entusiasmo de uma garotinha.
- Ah, eu adoro essas cortinas...
- Dona Cacilda, a senhora ainda nem viu seu quarto... Espere um pouco...
- Isto não tem nada a ver, respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada... Vai depender de como eu preparo minha expectativa. E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todos os dias quando acordo.Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dores que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem...Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.
- Simples assim?
- Nem tanto; isto é para quem tem auto controle e exigiu de mim um certo treino, mas é bom saber que ainda posso dirigir os meus pensamentos.
Calmamente ela continuou:- Cada dia é um presente, e enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, o meu conselho é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua Conta de Lembranças. E, obrigada por este seu depósito no meu Banco de lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.
(Desconheço o autor)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

POESIA DE KONSTANTINOS-KAVAFIS


A cidade

Dizes: “Vou para outra terra, vou para outro mar.
Noutro lugar, melhor cidade há­‑de haver certamente.
Será malogro, está escrito, tudo o que aqui tente
E - como morto - o coração sepultado aqui me jaz.
Por quanto tempo há­‑de ficar minh'alma em tão podre paz?
Pra todo o lado olhei, em todo o lado vi
Ruínas negras desta minha vida aqui,
Que tantos anos eu gastei a estragar, a dissipar."
.
Novo lugar não vais achar, nem achar novos mares.
Vai­‑te seguir esta cidade. Ruas vais percorrer,
serão as mesmas, e nos mesmos bairros hás­‑de viver,
nas mesmas casas ficará de neve o teu cabelo.
Hás­‑de ir ter sempre ao mesmo sítio, sem qualquer apelo.
Para outro lugar não há navio ou caminho
e estragares a vida tu neste cantinho
é pois igual a nesse largo mundo a dissipares.


Quanto puderes

Mesmo que não possas fazer a vida como a queres,
isto ao menos tenta
quanto puderes: não a desbarates
nos muitos contactos do mundo,
na agitação e nas conversas.
.
Não a desbarates arrastando­‑a,
e mudando­‑a e expondo­‑a
ao quotidiano absurdo
das relações e das companhias
até se tornar um estranho importuno.
.

Che fece ... Il gran rifiuto


Para algumas pessoas há­‑de chegar o instante
em que têm que dizer o grande Não ou o grande Sim.
Nessa altura se mostra qual delas tem dentro de si
pronto o Sim, qual o diz e logo segue adiante
.
do seu valor segura, e da sua certeza.
Quem nega não renega. E à pergunta, repetida,
"Não" diria. Porém durante toda a vida
Aquele "Não" tão certo lhe há­‑de ter a vida presa.


BIOGRAFIA DO POETA---AQUI

quinta-feira, 1 de julho de 2010

MEDITAÇÃO SOBRE PODERES



Rubricavam os decretos, as folhas tristes
sobre a mesa dos seus poderes efémeros.
Queriam ser reis, czares, tantas coisas,
e rodeavam-se de pequenos corvos,
palradores e reverentes, dos que repetem:
és grande, ninguém te iguala, ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas,
murmurando forjadas confidências,
não amando ninguém, nada respeitando.
Encantavam-se com o eco liquefeito
das suas vozes comandando, decretando.
Banqueteavam-se com a pequenez de tudo
quanto julgavam ser grande, com os quadros,
com o fulgor novo-rico das vénias e dos protocolos.
Vinha a morte e mostrava-lhes como tudo é fugaz quando,
humanamente, se está de passagem,
corpo em trânsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria
dos seus títulos afundados na terra lamacenta.
José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama"