«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Amigos - Vinícius de Morais


Tenho amigos que não sabem o 
quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes
 
devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais
 
nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela
 
se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
 
que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar,
 
embora não sem dor,
 
que tivessem morrido todos os
 
meus amores, mas enlouqueceria
 
se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem
 
o quanto são meus amigos e o quanto
 
minha vida depende de suas existências ....
A alguns deles não procuro, basta-me
 
saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir
 
em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com
 
assiduidade, não posso lhes dizer o
 
quanto gosto deles.
 
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão ouvindo esta crônica
 
e não sabem que estão incluídos na
 
sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta
 
que os adoro, embora não declare e
 
não os procure.
E às vezes, quando os procuro,
 
noto que eles não tem
noção de como me são necessários,
 
de como são indispensáveis
 
ao meu equilíbrio vital,
 
porque eles fazem parte
 
do mundo que eu, tremulamente,
construí e se tornaram alicerces do
 
meu encanto pela vida.

Se um deles morrer,
 
eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam,
 
eu rezo pela vida deles.
E me envergonho,
 
porque essa minha prece é,
 
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
 
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos
 
sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de
 
lugares maravilhosos, cai-me alguma
 
lágrima por não estarem junto de mim,
 
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome
 
e me envelhece é que a
roda furiosa da vida não me permite
 
ter sempre ao meu lado, morando
comigo, andando comigo,
 
falando comigo, vivendo comigo,
 
todos os meus amigos, e,
 
principalmente os que só desconfiam
 
ou talvez nunca vão saber
 
que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.



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