«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

segunda-feira, 12 de julho de 2010

GABRIELA MISTRAL


Poetisa chilena (7/4/1889-10/1/1957). Foi a primeira escritora latino-americana a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1945. Sua poesia única e repleta de imagens singulares não mostra influências do modernismo nem das vanguardas. Descendente de espanhóis, bascos e índios, Lucila Godoy Alcayaga nasceu em Vicuña, uma vila do norte do Chile.
Com apenas 15 anos começou a dar aulas. Seu noivo cometeu suicídio em 1907, fato que marcou a obra e vida de Gabriela Mistral, nunca se casou e se dedicou somente ao trabalho. Venceu um concurso literário chileno em 1914 com Sonetos de la Muerte, assinados com o pseudónimo Gabriela Mistral, formado a partir do nome de dois poetas que admirava o italiano Gabriele D’Annunzio e o francês Frédéric Mistral.
Seu primeiro livro de poesias, Desolación (1922), inclui o poema Dolor, no qual fala da perda do amado. O sentimento de maternidade frustrada aparece nos trabalhos seguintes, Ternura (1924) e Tala (1938). Colaborou na reforma educacional do México e do Chile. Representou seu país como consulesa em Nápoles, Madrid, Lisboa e Rio de Janeiro. Em 1954 publica Lagar.
Leccionou literatura espanhola na Universidade de Colômbia. Morreu em Hempstead, no estado de Nova York.

Há uma agonia de algas,
há uma surdez de areias
um solapamento de águas
e um quebrantamento de ervas.

Sob a noite estamos nós,
as criaturas completas:
os muros brancos e fieis,

o pinhal cheio de essencia,
uma pobre fonte impávida
e uma vidraça em vigília.

Olhando umas para as outras
de vergonha estyremecemos
por nossos joelhos intactos
e nossas frontes perfeitas.

Cai um corpo maternal
roto em ombros e em quadris
Cai numa tela, vencido,
numas tardas cabeleiras.

Ouvem-na tombar seus filhos
como à duna a própria areia,
em filamentos obliquos
atravessando a soleira.

Ninguem susta o desperdício
e nossas mãos quietas,
enquanto baixam seus fios
em um enxame de abelhas

Caem assim extenuados
seus gestos já sem governo
e seu braço se abandona
e sua cor não se lembra

E logo estará sem nome
a mãe que aqui se apresenta
e já não lhe convirão
perfil, nem casta, nem terra.

Entretanto ontem foi uma
que se podia reter
dizendo o nome verídico
de condição verdadeira.

Da fronte aos pés era única
tal o compassso ou a estrela.
Agora já se reparte
por dois teares, duas teias.

Entre margens sugestivas
vacila assim como as ébrias
e agora sobe embebida
de outro ar e de outra ribeira.

Ouve-se um duelo de margens
pela mãe que se nos dera,
de um lado a margem que a arrasta,
de outro a margem que a persegue.

Chega ao tendal dolorido
de seus filhos pela aldeia,
o transe de seu conflito
como de um rio no delta.

AUSÊNCIA

Se vai de ti meu corpo gota a gota.
Se vai minha cara no óleo surdo;
Se vão minhas mãos em mercúrio solto;
Se vão meus pés em dois tempos de pó.
.
Se vai minha voz, que te fazia sino
fechada a quanto não somos nós.
Se vão meus gestos, que se enovelam,
em lanças, diante de teus olhos.
.
E se te vai o olhar que entrega,
quando te olha, o zimbro e o olmo.
Vou-me de ti com teus mesmos alentos:
como humidade de teu corpo evaporo.
.
Vou-me de ti com vigília e com sono,
e em tua recordação mais fiel já me apago.
e em tua memória volto como esses
que não nasceram nem em planos nem em bosques
.
Sangue seria e me fosse nas palmas
de teu trabalho e em tua boca de sumo.
Tua entranha fosse e seria queimada
em marchas tuas que nunca mais ouço,
e em tua paixão que retumba na noite,
como demência de mares sós.
Se nos vai tudo, se nos vai tudo!

Floco de lã de minha carne,
que em minha entranha eu teci,
floco de lã friorento,
dorme apegado a mim!
A perdiz dorme no trevo
escutando-o pulsar:
não te perturbem meus alentos,
dorme apegado a mim!
Ervazinha assustada
assombrada de viver,
não te soltes de meu peito:
dorme apegado a mim!
Eu que tudo o hei perdido
agora tremo de dormir.
Não escorregues de meu braço:
dorme apegado a mim!

Somos culpados
de muitos erros e faltas
porém nosso pior crime
é o abandono das crianças
negando-lhes a fonte
da vida
Muitas das coisas
de que necessitamos
podem esperar.
A criança não pode
Agora é o momento em que
seus ossos estão se formando
seu sangue também o está
e seus sentidos
estão se desenvolvendo
A ela não podemos responder “amanhã”
Seu nome é hoje.


DAME LA MANO

Dame la mano y danzaremos;
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...

El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.

Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina y nada más...

1 comentário:

b disse...

PODEROSA A GABRIELA.
Sabia dela mas nada da obra.
extasiante, desafiante, cortante e bela.
1 abraço prá você.