À medida que ia andando não me sentia tão sozinho e na realidade não estava. Um rafeiro cheio de fome seguia-me. A pobre criatura estava horrivelmente magra; conseguiam-se ver as costelas espetadas na pele. A maior parte do pelo tinha caído. O cão estava maltratado, estafado, abandonado, cheio de medo, uma vítima do Homo Sapiens.
Parei e ajoelhei-me, estiquei a mão. Ele recuou.
-Anda cá pequenito, sou amigo…anda cá, toma…
Ele aproximou-se. Tinha uns olhos muito tristes.
-O que te fizeram pequenito?
Aproximou-se mais, rastejando ao longo do passeio, a tremer, a abanar muito rápido a cauda. Depois chegou-se a mim, saltando. Caí no chão, lambeu-me a cara, a boca, as orelhas, a testa, tudo! Afastei-o e pus-me em pé e limpei a cara.
-Tem calma, precisas de comer!
-dei-lhe um bocado da minha sande.
Aproximou-se, cheirou e comeu!
Aproximei-me para lhe fazer uma festa, rosnou desconfiado e depois desapareceu.
Não admira que eu tenha andado sempre deprimido. Nunca recebi a atenção que queria.
Ham On Rye - Pão Com Fiambre, Charles Bukowski,
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