«Ser, ou não ser – eis a questão. Será melhor nobreza de alma sofrer a funda e as flechas da fortuna ultrajante ou pegar em armas contra um mar de infortúnios, pondo-lhes um fim? Morrer… dormir… nada mais. È belo como dizer que pomos fim ao desgosto e aos mil males naturais que são a herança da carne. È esse um fim a desejar ardentemente. Morrer… dormir… dormir… e talvez sonhar! Sim, eis o espinho. Pois que sonhos podem vir desse sono da morte, depois de libertos do túmulo da vida? Eis o que deve deter-nos. Eis o que nos faz a consideração da calamidade de uma tão longa vida. Pois quem suportaria as chicotadas e as mofas do mundo, a tirania do opressor, a insolência dos orgulhosos, as dores do amor desprezado, as delongas da lei, a arrogância do poder, o desdém que o mérito paciente recebe dos indignos, quando podia buscar a quietude com um simples estilete? Quem suportaria tais fardos, protestando e suando numa vida dura, se não fosse o receio de qualquer coisa depois da morte, dessa região não descoberta e da qual nenhum viajante regressa, que lhe quebranta a vontade e faz que antes queira sofrer os males da Terra que voar para outro de que nada sabe? Assim, a consciência faz de nós uns covardes; assim a cor primitiva da resolução descora perante a pálida luz do pensamento e empreendimentos de grande porte e importância desviam a sua rota e perdem o nome da acção.
terça-feira, 21 de julho de 2009
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