«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Henrique Raposo no Expresso> > > >> >> > O regime morreu. A III República portuguesa está morta. Ainda ninguém> > levantou o corpo, porque as certidões de óbito - em política - demoram a> > chegar. E, neste caso, estamos a falar de três certidões, ou seja, vivemos> > num regime que morreu três vezes.> >> >> > A primeira morte é económica. O modelo> > socialista/social-democrata/democrata-cristão, centrado na caridade do> > Estado e na subalternização do indivíduo, está falido, e brinda-nos com> > recessões de quatro em quatro anos. Basta ler "O Dever da Verdade" (Dom> > Quixote), de Medina Carreira e Ricardo Costa, para percebermos que o nosso> > Estado é, na verdade, a nossa forca. Através das prestações sociais e das> > despesas com pessoal, o Estado consome aquilo que a sociedade produz. Estas> > despesas, alimentadas pela teatralidade dos 'direitos adquiridos', estão a> > afundar Portugal. Eu sei que esta verdade é um sapo ideológico que a> > maioria dos portugueses recusa engolir. Mas, mais cedo ou mais tarde, o> > país vai perceber que os 'direitos adquiridos' constituem um terço dos> > pregos do caixão da III República.> >> >> > A segunda morte é institucional. Como já aqui escrevi várias vezes,> > Portugal não tem um regime político com freios e contrapesos. O partido da> > maioria, seja ele qual for, controla todas as instituições do regime;> > vivemos numa espécie de 'ditadura conjuntural' do partido da maioria. Por> > outro lado, Portugal é um Estado de direito falhado: a nossa Justiça é um> > embaraço confrangedor. A geração que está no poder construiu a democracia.> > Cabe à minha geração edificar o Estado de direito.> >> >> > A terceira morte é partidária. O nosso sistema partidário tem a vitalidade> > de um zombie, pois não responde às necessidades da sociedade. Porquê? Ora,> > porque os partidos portugueses representam os interesses do Estado e não os> > interesses da sociedade. Portugal precisa de reformas que emagreçam o> > Estado, mas os partidos são os primeiros a recusar essas reformas. É> > natural: o emagrecimento do Estado significaria o fim de milhares e> > milhares de empregos para os boys.> >> >> > A necessária dieta estatal passaria, por exemplo, pela reforma do mapa> > autárquico. A actual arquitectura do poder local assenta em pilares> > arcaicos. Em 2009, é simplesmente ridículo vermos o país dividido em 4251> > freguesias e 308 municípios. Como é que um país tão pequeno está> > esquartejado desta forma? Esta situação chega a ser caricata, mas os> > partidos nunca executarão mudanças no mapa autárquico. É fácil perceber> > porquê: com menos câmaras e freguesias, as matilhas de caciques seriam> > obrigadas a sair do quentinho partidário e a procurar trabalho no frio da> > vida real. Enfim, a III República está bloqueada. Os actores que deveriam> > ser as alavancas legítimas das reformas - os partidos - são os primeiros a> > dizer 'não' às ditas reformas.> >> >> > Para esconder as três mortes do regime, os partidos inventaram um mecanismo> > de defesa: o folclore fracturante. A actual conversa sobre o casamento gay> > é só mais uma forma de adiar a chegada do médico legista da III República,> > o regime que morreu três vezes.> >> >> > Henrique Raposo> >

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