«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

THOMAS MANN (1875-1955)


Romancista alemão, considerado por alguns como um dos maiores romancistas do século XX, recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1929. Era filho de um comerciante alemão e de uma brasileira. Em 1892 (quando tinha dezessete anos) morreu o pai e os negócios da família foram abandonados. No ano seguinte, ele escreveu alguns textos em prosa e artigos para a revista "Der Frühlingssturm", que co-edita. Na mesma época, apaixonou-se por Wilri Timppe, filho de um de seus professores. Anos mais tarde, inspirar-se-ia em Timppe para criar Pribslav Hippe, personagem de "A Montanha Mágica".
Com dezenove anos, juntou-se à mãe em Munique, no bairro boêmio de Schwabing. Rapidamente, a Senhora Mann tornou-se uma agitadora cultural e oferecia saraus literários e festas em sua casa.
Em Munique, Mann fez um estágio não remunerado numa sociedade de seguros, mas acabou por abandonar, tornando-se escritor livre.
Durante três anos andou a viajar, primeiro foi a Palestrina (Itália) fazer uma longa visita ao seu irmão mais velho, Heinrich Mann, também ele romancista. Thomas acompanhou o irmão nos seus passeios a Roma e por outros lugares da Itália. Foi em Itália que começou a trabalhar no manuscrito de "Buddenbrooks". De volta a Munique, tornou-se um dos editores do jornal satírico/humorístico, "Simplicissimus".
Por essa época, apaixonou-se por Paul Ehrenberg, um amor conturbado e não correspondido, mas que definiria mais tarde como a "experiência central de seu coração". Resolveu servir o exército, mas arrependeu-se e através de um médico conhecido, ficou livre. Com a edição do seu romance, "Buddenbrooks", Thomas Mann tornou-se famoso. Em 1905, casou com Katia Pringsheim, pertencente a uma proeminente e secular família judia de intelectuais. Katia era neta da activista pelos direitos da mulher Hedwig Dohm. Deste casamento nasceram seis filhos. Durante a Primeira Guerra Mundial, Thomas Mann acolheu com agrado a entrada da Alemanha na guerra. Defendeu a política do Kaiser Guilherme II, em oposição directa ao irmão Heinrich Mann, que estava do lado da França e da "Civilization" (termo de Thomas). Thomas Mann chegou mesmo a penhorar a casa que possuía em Bad Tölz, a favor do esforço de guerra.
Este período encontra-se na base do romance "A Montanha Mágica".
Em 1929, Thomas Mann torna-se ainda mais famoso, ganhando o prémio Nobel da Literatura. O júri justifica-se aludindo a Buddenbrooks. Nenhuma menção a "A montanha mágica", romance em que o escritor revela simpatias democráticas.
Emigrou da Alemanha Nazista para Küsnacht, na Suíça, em 1933, o ano da chegada ao poder de Hitler. Após ter perdido a nacionalidade alemã , Thomas Mann permaneceu na Suíça até 1938, mudando-se então para os Estados Unidos. Inicialmente, trabalhou como convidado em Princeton, mas o ambiente acadêmico não lhe agradava. Assim, decidiu mudar para Pacific Palisades, EUA. Em 1944, obteve a cidadania americana. Diante da perseguição aos intelectuais emigrados pelo MacCarthismo, Mann retornou à Europa em 1952 e viveu em Kilchberg, próximo a Zurique, na Suíça, até à sua morte, em 1955.
Thomas Mann ganhou repercussão internacional, aos 26 anos, com sua primeira obra, Os Buddenbrooks (Buddenbrooks), um romance que conta a história de uma família protestante de comerciantes de cereais de Lübeck ao longo de três gerações. Fortemente inspirado na história de sua própria família.
Thomas Mann é também um romancista analítico, que descreve como poucos a tensão entre o carácter nórdico, protestante, frio e ascético (características típicas da sua Lübeck natal) e os personagens mais rústicos, simples, bonacheirões, das zonas católicas, de onde se destaca o senhor "Permaneder", o paradigma do Bávaro de Munique, em "Os Buddenbrooks". Esta tensão interior tornou-se patente durante a sua estadia em Palestrina, Itália, onde começou a escrever os "Buddenbrooks". Thomas Mann viveu entre estes dois mundos, tal como o irmão. Por um lado a origem familiar e o ambiente da ética protestante de Lübeck, por outro lado a voz interior e a influência de sua mãe brasileira, que o faziam interessar-se mais pela litaratura do que pelos negócios. No romance, A Montanha Mágica ("Der Zauberberg"), publicado pela primeira vez em 1924, Thomas Mann faz um retrato de uma Europa em ebulição, no eclodir da Primeira Guerra Mundial.
Escreveu romances, ensaios e contos. Psicólogo penetrante e estilista consumado, a sua extensa obra, abrange desde contos até escritos políticos, passando por novelas e ensaios. Thomas Mann é autor de clássicos da literatura como:
Morte em Veneza, Tonio Kröger, Confissões do Impostor Felix Krull, As Cabeças Trocadas e José e seus Irmãos.
Muitos dos seus romances lidam com a tensão entre a veia artística, rebelde e funesta por um lado, e a boa cidadania, cumpridora da lei, das tradições e bons costumes.
Quando Thomas Mann tinha quinze anos, o irmão Heinrich tomou conhecimento da sua orientação sexual. Surpreendido, achando esta história algo de divertido mas sem fazer grande ruído sobre o assunto, Heinrich sugere a Thomas Mann que tente tratar o "problema" com uma "cura de sono".
Os diários de Thomas Mann, que foram mantidos em sigilo até 1975, revelam um Thomas Mann em luta interior com os seus desejos homossexuais, que se tinham tornado patentes em várias de suas obras. Mann descreve no seu Diário, os seus sentimentos pelo jovem violinista e pintor Paul Ehrenberg, que ele descreve como uma "experiência central do meu coração".
A maioria dos comentadores é da opinião que a homossexualidade de Thomas Mann foi reprimida e que a escrita era para ele uma forma de compensar esse constrangimento. É preciso lembrar que até a primeira metade do século XX, a homossexualidade era vista como um desvio sexual e motivo para tratamento psiquiátrico. Assim, a repressão de seus sentimentos não se devia por uma incapacidade pessoal, antes por um contexto social e histórico homofóbico. Não existia ainda a idéia do "assumir-se", pois a identidade homossexual não era socialmente aceita e implicava exposição a insultos, abjecção pública e perseguição de todo tipo.
O homoerotismo emerge como problemática intrínseca ao artista desde suas primeiras histórias (O Pequeno Sr. Friedmann, Os Buddenbrooks, Tonio Krôger) até nas obras mais reconhecidas (A Morte em Veneza, A Montanha Mágica e Doutor Fausto).

LIVROS QUE LI:
Os Buddenbrooks
Morte em Veneza
A Montanha Mágica

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