«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

RÓMULO DE CARVALHO/ANTÓNIO GEDEÃO (1906-1997)


Foi professor, investigador e poeta. Em Lisboa tirou o curso de Fisíco-Químicas e no Porto tirou o curso de Ciências Pedagógicas. Foi professor e investigador durante 40 anos. Sempre fez poesia, que ia destruindo e só em 1956 publicou o seu primeiro livro de poemas. Os seus poemas são uma simbiose entre ciência e poesia, a vida vivida e o sonho, a lucidez e a esperança. O seu poema «Pedra Filosofal», foi musicado por Manuel Freire e tornou-se num hino à liberdade.
Dos muitos dos seus poemas que tanto gosto, seleccionei «Lágrima de Preta», que considero perfeito.


Lágrima de preta


Encontrei uma preta que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado
num tubo de ensaio bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,do outro e de frente:
tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos,as bases e os sais,
as drogas usadas em casos que tais.

Ensaiei a frio,experimentei ao lume,
de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)e cloreto de sódio.

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