«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

sábado, 13 de dezembro de 2008

CECÍLIA MEIRELLES (1901-1964)

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, foi uma das mais sofisticadas poetizas, apresentando uma linguagem que explora simbolismos complexos, frequentemente simples na forma. Uma poesia que contém imagens sugestivas, sobretudo as de forte apelo sensorial, reflexivo, filosófico. Abordou, temas como a transitoriedade da vida, a efemeridade do tempo, o amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Além disso, a frequência com que os elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música aparecem em sua poesia, dá-lhe um carácter fluido e etéreo, que confirmam a inclinação neo-simbolista da sua poesia, confirmando a sua importante posição na literatura brasileira do século XX.
Poetisa, professora, pedagoga e jornalista. Casou-se duas vezes e deixou três filhas.
Entre 1925 e 1939, dedicou-se a sua carreira docente publicando vários livros infantis e fundando, em 1934, a Biblioteca Infantil do Rio de Janeiro. A partir desse ano, ensinou Literatura Brasileira em Portugal (Lisboa e Coimbra) e, em 1936, foi nomeada para a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Cecília reapareceu no cenário poético, após 14 anos de silêncio, com “Viagem” (1939), considerado um marco de maturidade e individualidade na sua obra: recebeu o prémio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras. Daí em diante, dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente até a sua morte.
Publicou vários livros: de poesia; em prosa, dedicando-se a assuntos pedagógicos e folclóricos e em prosa lírica, com temas sobre a sua infância, as suas viagens e crónicas circunstanciais.
Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo

que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não
Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ? Tudo.
Que desejas ? Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.

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