«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

JULIO FLORENCIO CORTÁZAR (1914-1984)


Belga de pais argentinos, nasceu na embaixada da Argentina em Ixelles, distrito de Bruxelas, na Bélgica, e voltou a sua terra natal aos quatro anos de idade. Os seus pais separaram-se posteriormente e passou a ser criado pela mãe, uma tia e uma avó. Passou a maior parte de sua infância em Banfield, na Argentina, e não era uma criança totalmente feliz, apresentando uma tristeza frequente. Declararia: «Pasé mi infancia en una bruma de duendes, de elfos, con un sentido del espacio y del tiempo diferente al de los demás.»
Cortázar era uma criança bastante doente e passava muito tempo na cama, lendo livros que a sua mãe seleccionava. Muitos de seus contos são autobiográficos, como, Bestiario, Final del juego, Los venenos e La Señorita Cora, entre outros.
Formou-se em Letras em 1935 e passados três anos, editou, Presencia, livro de poemas, sob o pseudónimo "Julio Denis". Leccionou em algumas cidades do interior do país e foi professor universitário , mas renunciou ao cargo quando Perón assumiu a presidência da Argentina. Empregou-se depois, na Câmara do Livro em Buenos Aires e realizou alguns trabalhos de tradução.
Com 37 anos, Cortázar, por não concordar com a ditadura na Argentina, partiu para Paris (França), na sequência de ter ganho uma bolsa de estudo para dez meses,do governo francês, mas acabou por se instalar definitivamente. Trabalhou durante muitos anos como tradutor da UNESCO. Cortázar casou com Aurora Bernárdez em 1953, uma tradutora argentina. Viviam em Paris, sob condições económicas difíceis e surgiu a oportunidade de traduzir a obra completa, em prosa, de Edgar Allan Poe para a Universidad de Puerto Rico. Esse trabalho foi considerado pelos críticos como a melhor tradução da obra do escritor.
Em 1963 visitou Cuba enviado pela Casa de las Américas, para ser jurado num concurso. Foi a época de intensificação do seu fascínio pela política. No mesmo ano teve um livro traduzido para inglês. Em 1962, lançou Historias de Cronopios y Famas, e no ano de 1963 marcou o lançamento de Rayuela, que foi o seu grande sucesso. Em 1959 saiu o volume, Final del Juego. Seu artigo, Para Llegar a Lezama Lima, foi publicado na revista "Union", em Havana. Depois desses anos, Cortázar comprometeu-se politicamente na libertação da América Latina sob regimes ditatoriais.
Em Novembro de 1970 foi ao Chile, onde se solidarizou com o governo de Salvador Allende. Em 1971, foi "excomungado" por Fidel Castro, assim como outros escritores, por pedir informações sobre o desaparecimento do poeta Heberto Padilla. Apesar de sua desilusão com a atitude de Castro, continuou acompanhando a situação política da América Latina.
Dois anos depois, recebeu o Prémio Médicis por, Libro de Manuel e destinou os seus direitos à ajuda dos presos políticos na Argentina. Em 1974, foi membro do Tribunal Bertrand Russell II, reunido em Roma para examinar a situação política na América Latina, em particular as violações dos Direitos Humanos.
Em 1976, viajou para Costa Rica, onde se encontrou com Sergio Ramírez e Ernesto Cardenal, e fez uma viagem clandestina até Solentiname, na Nicarágua. Esta viagem o marcaria para sempre e seria o começo de uma série de visitas a este país.
Em 1981 sofreu uma hemorragia gástrica, mas dois anos depois, voltou à Argentina, Cortázar fez a sua última viagem à sua pátria, onde foi recebido pelos seus admiradores, que o paravam na rua e lhe pediam autógrafos, em contraste com a indiferença das autoridades nacionais. Depois de visitar vários amigos, regressou a Paris. Pouco depois foi-lhe dada a nacionalidade francesa.
Carol Dunlop, sua última esposa, morreu em 1982, e Cortázar teve uma profunda depressão. Morreu de leucemia em 1984, sendo enterrado no cemitério de Montparnasse, na mesma sepultura de Carol. Em sua sepultura se ergue a imagem de um "cronópio", personagem criado pelo escritor.
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É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo, mestre do conto curto e da prosa poética, comparável a Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe. Foi o criador de novelas, que inauguraram uma nova forma de fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos, mediante narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem autonomia e profundidade psicológica inéditas.
Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor.
Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano Michelangelo Antonioni, cujo longa-metragem, Blow-up, foi baseado no conto, As Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).
Cortázar escreveu bastantes livros, mas poucos apareceram em Portugal. Deste escritor li realmente pouca coisa e considerei a sua escrita estranha, mas fascinante
LI:
Bestiário (contos), Histórias de Cronópios e de Famas (miscelânea)
O livro, Histórias de Cronópios e de Famas, foi escrito por Cortázar em Roma e Paris, no período de 1952 a 1959, mas foi publicado em 1962. Oferece uma espécie de reinvenção do mundo através de seus personagens, os "cronópios", os "famas" e as "esperanças", que alcançam sensibilidade e fascínio na medida em que traduzem a psicologia humana.

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