«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

FRANCISCO BUARQUE DA HOLANDA (1944) «CHICO BUARQUE»



Músico, dramaturgo e escritor brasileiro. Filho do historiador e jornalista Sérgio Buarque de Hollanda, iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu, com a canção A Banda, o Festival de Música Popular Brasileira. Em 1969, com a crescente repressão da Ditadura Militar no Brasil, auto-exilou-se na Itália, tornando-se, ao retornar, um dos artistas mais activos na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. Casou-se e separou-se da actriz Marieta Severo, com quem teve três filhas: Sílvia, Helena e Luísa.
Em 1946, passou a morar em São Paulo, onde o pai assumira a direcção do Museu do Ipiranga. Sempre revelou interesses pela música - interesse que foi bastante reforçado pela convivência com intelectuais como Vinicius de Moraes e Paulo Vanzolini.
Em 1953, Sérgio Buarque de Holanda foi convidado para leccionar na Universidade de Roma, consequentemente, a família mudou-se para a Itália. Chico, nessa época, compôs as suas primeiras "marchinhas de Carnaval". De volta ao Brasil, produziu as suas primeiras crónicas jornalísticas. Sua primeira aparição na imprensa não foi cultural, mas policial. Com um amigo, furtou um carro para passear pela madrugada Paulista, algo relativamente comum na época. Foi preso e não podia mais sair sozinho à noite até que completasse 18 anos.
Chico Buarque chegou a ingressar no curso de Arquitectura. Cursou dois anos e parou em 1965, quando começou a dedicar-se à carreira artística. Nesse ano, lançou Sonho de Carnaval, além de Pedro Pedreiro, música fundamental para experimentação do modo como viria a trabalhar os versos, com rigoroso trabalho estilístico morfológico e politização, mais significativa na década de 70. A primeira composição séria, Canção dos Olhos, é de 1961.
Conheceu Elis Regina, que havia vencido o Festival de Música Popular Brasileira (1965) com a canção Arrastão, Chico Buarque revelou-se ao público brasileiro quando ganhou o mesmo Festival, no ano seguinte (1966), com A Banda, interpretada por Nara Leão. Canções como Ela e sua Janela, de 1966, começam a demonstrar a face lírica do compositor.
No festival de 1967 faria sucesso também com Roda Viva, interpretada por ele e pelo grupo MPB-4 - amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em 1968 voltou a vencer outro Festival, o III Festival Internacional da Canção. Como compositor, em parceira com Tom Jobim, com a canção Sabiá. A participação no Festival, com A Banda, marcou a primeira aparição pública de grande repercussão apresentando um estilo amparado no movimento musical urbano carioca da Bossa nova, surgido em 1957. Ao longo da carreira, o samba e a MPB também seriam estilos amplamente explorados.
Ameaçado pelo Regime Militar no Brasil, esteve exilado na Itália em 1969, onde chegou a fazer espectáculos com Toquinho. Nessa época as suas canções, Apesar de você (alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici) e Cálice foram censuradas pela censura brasileira.
Ao voltar ao Brasil continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, económicos e culturais, como a célebre Construção ou a divertida Partido Alto. Apresentou-se com Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na Inglaterra) e Maria Bethânia. Usou o pseudónimo, Julinho da Adelaide, a forma que o compositor encontrou para enganar a censura, que era implacável. Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até mesmo a conceder entrevista a um jornal da época.
Uma das canções de Chico Buarque que criticam a ditadura, é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar.
A canção chama-se, Meu Caro Amigo e foi dirigida a Boal, que na época estava exilado em Lisboa. A canção foi lançada originalmente num disco de título quase igual, chamado,
Meus Caros Amigos.
Composições que se notabilizaram pela decantação de um "eu" feminino, retratando temas a partir do ponto de vista das mulheres com notória poesia e beleza: esse estilo é adaptado em Com açúcar e com afecto escrito para Nara Leão; continuou nessa linha com belas canções como Olhos nos Olhos e Teresinha, gravadas por Maria Bethânia, Atrás da Porta, interpretada por Elis Regina, e Folhetim, com Gal Costa e Iolanda (versão adaptada de letra original de Pablo Milanés), num dueto com Simone.
Desde muito jovem, conquistou reconhecimento de crítica e público. Ao longo da carreira foi parceiro como compositor e intérprete de vários dos maiores artistas da Música Popular Brasileira, como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Francis Hime e Edu Lobo.


Chico participou como actor e compôs várias canções de sucesso para o filme, Quando o Carnaval chegar, musical de Cacá Diegues. Compôs a canção-tema do longa-metragem, de Vai trabalhar Vagabundo, Se segura Malandro e Vai Trabalhar Vagabundo II, de Hugo Carvana. Adaptou canções de uma peça infantil para o filme, Os Saltimbancos Trapalhões do grupo humorístico Os Trapalhões e com interpretações de Lucinha Lins. Outras adaptações de uma peça homónima de sua autoria, foram feitas para o filme, A Ópera do Malandro, mais um musical cinematográfico. Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados: Bye Bye Brasil, Dona Flor e seus dois maridos e Eu te amo, os dois últimos com Sónia Braga. Recentemente, chegou a ter uma participação especial como actor no filme, Ed Mort. Também escreveu um livro que foi adaptado ao cinema,
Benjamim.


Escreveu para teatro: Morte Severina de João Cabral de Melo Neto, Roda viva, uma obra que se tornou um símbolo da resistência contra a ditadura. Um grupo de cerca de 110 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas invadiu o teatro, espancou artistas e destruiu o cenário, Calabar: o Elogio da Traição, escrita em parceria com o cineasta Ruy Guerra, a peça relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu tomar partido ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa, mas depois dos muitos gastos na sua montagem, a peça foi proibida, assim como a divulgação da sua proibição, Gota d’Água foi escrita por Chico e Paulo Pontes, Ópera do malandro que é baseada na Ópera dos mendigos, de John Gay, e na Ópera de três vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill e O Grande Circo Místico, inspirado no poema do modernista Jorge de Lima.

Escreveu os romances: Estorvo, Benjamim e Budapeste.

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