«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VINICIUS DE MORAES (1913-1980) [IMPOSSÍVEL ESQUECER]


Poeta essencialmente lírico. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador do uísque, era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida. A sua obra é vasta, passando pela literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o seu trabalho foi excepcional.
Filho de um funcionário da Prefeitura, poeta e violonista amador e de uma pinista amadora. Vinicius viveu no bairro da Gávea, na então capital brasileira. Em 1916 mudou-se com a família para Botafogo, onde estudou na Escola Primária e onde escreveu os seus primeiros versos. Depois estudou no Colégio Santo Inácio de pois tirou o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais. Durante este tempo cantou num coro, começou a montar pequenas peças de teatro e afazer as suas primeiras composições. O seu primeiro emprego foi como censorcinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Em 1938, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil, arranjando empregos temporários no jornalismo. Reprovou no seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores, passando no segundo. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Nos anos de 1950, a carreira diplomática levou Vinicius a Paris e a Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda. A sua carreira diplomática durou até 1968.
Além da diplomacia, do teatro e dos livros, a sua carreira musical, que começou em meados da década de 1950, foi marcante para a música brasileira, estando na vanguarda de vários movimentos, com várias parcerias.
CARREIRA DE VINICIUS
Analisando a sua carreira de compositor e de poeta retrospectivamente, no fim dos anos 1920, Vinicius de Moraes produziu letras para várias canções, de parceria com os irmãos Tapajós e não só. Em 1933 publicou o seu primeiro livro de poemas,"O Caminho para a Distância", a que se seguiram outros livros. Ainda na década de 1930, Vinicius de Moraes estabeleceu amizade com os poetas Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Na sua fase considerada mística, ele recebeu o "Prêmio Felipe D'Oliveira" pelo livro "Forma e Exegese» e a seguir publica, "Ariana, a Mulher".
Nos anos de 1940, mudou de fase, as suas obras literárias foram marcadas por versos em linguagem mais simples, sensual e, por vezes, carregados de temas sociais. Vinicius de Moraes publicou os livros "Cinco Elegias" e "Poemas, Sonetos e Baladas". Foi jornalista e crítico de cinema em diversos jornais e lançou em 1947, com Alex Vianny, a revista "Filme". Dois anos depois, publicou em Barcelona o livro, "Pátria Minha".
De volta ao Brasil, no início dos anos 1950, depois de uma estadia nos Estados Unidos, Vinicius começou a trabalhar no jornal "Última Hora", exercendo funções burocráticas na sede do Ministério das Relações Exteriores. Passados três anos foi para Paris, como segundo secretário da embaixada brasileira.
Também naquele ano, a sua peça teatral "Orfeu da Conceição" foi premiada num. No ano seguinte, publicou, "Antologia Poética".
Em 1956, Vinicius conheceu o jovem pianista, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Desse encontro, nasceria uma das mais fecundas parcerias da música brasileira. Os dois compuseram, "Lamento no Morro", "Se Todos Fossem Iguais A Você", "Um Nome de Mulher", "Mulher Sempre Mulher", "Eu e Você", "A Felicidade", "Chega de Saudade", "Eu Sei Que Vou Te Amar", "Garota de Ipanema", "Insensatez"', entre outras belas canções.
Entre 1957 a 1958 o director de cinema francês Marcel Camus filmou, no Rio de Janeiro, "Orfeu do Carnaval", que recebeu o nome de "Orfeu Negro". Vinicius compôs para o filme "A Felicidade" e "O Nosso Amor". Um ano depois, o filme seria contemplado com a Palma de Ouro no Festiva de Cinema de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Vinicius continuava a sua carreira diplomática e foi para Montivideu.
O ano de 1958 marcou o início de um dos movimentos mais importantes da música brasileira, a Bossa Nova. A pedra fundamental do movimento veio com o álbum "Canção do Amor Demais", gravado pela cantora Elizeth Cardoso. Além da faixa-título, o antológico LP contava ainda com outras canções de autoria da dupla Vinicius e Tom, como "Luciana", "Estrada Branca", "Outra Vez" e "Chega de Saudade", em interpretações vocais intimistas.
"Chega de Saudade" foi uma canção fundamental daquela novo movimento, especialmente porque o álbum de Elizeth contou com a participação de um jovem violonista, que com seu inovador modo de tocar o violão, caracterizado por uma nova batida, marcaria definitivamente a bossa nova e a tornaria famosa no mundo inteiro. O nome deste violonista é João Gilberto. A importância do disco "Canção do Amor Demais" é tamanha, que é uma referência de muitos artistas, como Chico Buarque e Caetano Veloso.
Da Embaixada de Montevidéu, foi para o Uruguai.
Vinicius trabalhou com novas parcerias e registou pela primeira vez a sua voz, num álbum contendo os sambas "Água de Beber" e "Lamento no Morro", novamente trabalhos com Tom Jobim. O poeta teria também um novo parceiro naquele período, o cantor, compositor e violonista Carlos Lyra. Com ele, Vinicius iria compor clássicos como "Você e Eu", "Coisa Mais Linda" "A Primeira Namorada" e "Nada Como Te Amar". No "Teatro Santa Rosa" foi estreado no Rio de Janeiro,"Procura-se uma rosa", peça de autoria de Vinicius, Pedro Bloch e Gláucio Gil - filmada depois pelo cinema italiano com o nome de "Una Rosa per Tutti". Nos anos 60, a Banda do Corpo de Bombeiros fluminense gravou "Serenata do Adeus", um ano após gravarem "Rancho das Flores", marcha-rancho com versos do poeta sobre tema de "Jesus, Alegria dos Homens", de Johann Sebastian Bach. Vinicius de Moraes publicou três livros: "Antologia Poética", "Procura-se Uma Rosa" e "Para Viver Um Grande Amor".
Com Pixinguinha, compôs a banda sonora do filme "Sol sobre a Lama", escrevendo as letras para os chorinhos "Lamento" e "Mundo Melhor". Também naquele período, nasceu a parceria com o compositor e violonista Baden Powell. Desta, resultariam inúmeros sucessos. Em 1962, com Tom Jobim, João Gilberto e o grupo Os Cariocas, Vinicius de Moraes participou de "Encontro", um dos mais importantes concertos da bossa nova realizado no Rio de Janeiro. Também foi encenada, "Pobre Menina Rica", mais uma peça do poeta, cuja banda sonora trazia canções como "Sabe Você", "Primavera" e "Samba do Carioca" (lançando a cantora Nara Leão), ambas parcerias com Carlos Lyra.
Vinicius, continuou a compôr as suas canções, mas as mesmas conotavam-se com o clima de protesto da época e foram apresentadas em projectos do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes . Por um breve período, Vinicius foi designado para trabalhar na delegação do Brasil junto à Unesco, na Europa. O poeta também trabalhou, no roteiro do filme "Garota de Ipanema» e lançou o livro "Cordélia e o Peregrino".
Ainda em 1965, o Teatro Municipal de São Paulo foi o palco de uma homenagem ao «poetinha», com o show "Vinicius: Poesia e Canção", espectáculo que contou com a participação da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Quando o poeta terminou a apresentação de "Se Todos Fossem Iguais A Você", a plateia respondeu com dez minutos ininterruptos de aplausos.
Em 1966, foi lançado o álbum "Os Afro-Sambas", composições em parceria com Baden Powell. Naquele mesmo período, Vinicius participou do concerto "Pois É", ao lado de Maria Bethânia e Gilberto Gil. No espetáculo dirigido, compositor, maestro e pianista Francis Hime, o público carioca conheceu pela primeira vez as canções de Gilberto Gil. Ainda naquele ano, o «poetinha» lançou o livro de crónicas "Para Uma Menina Com Uma Flor" e também foi convidado a participar do júri do Festival de Cannes. Na ocasião, descobriu que sua canção "Samba da Benção" havia sido utilizada, sem os devidos créditos, na banda sonora do filme "Um Homem e Uma Mulher", do diretor francês Claude Lelouch, vencedor do festival. O ano de 1967 marcou a estréia do filme "Garota de Ipanema", baseado no sucesso homónimo de Vínicius. É a canção brasileira mais conhecida no mundo depois de "Aquarela do Brasil" (de Ary Barroso). Ainda naquele período, o «poetinha» organizou um festival de artes em Ouro Preto e viajou para a Argentina e o Uruguai.
O ano de 1968 marcou o fim da carreira diplomática de Vinicius de Moraes. Após 26 anos de serviços prestados ao MRE, Vinicius foi aposentado pelo Acto Institucional 5, aposentadoria compulsória, facto que o magoou profundamente. No dia em que o acto era editado, Vinicius encontrava-se em Portugal, onde realizava um concerto. Após este espectáculo, estudantes salazaristas estavam aglomerados na porta do teatro em protesto. Avisado disto e aconselhado a retirar-se pelos fundos do teatro, o «poetinha» preferiu enfrentar os protestos e, parando diante dos manifestantes, começou a declamar "Poética I" ("De manhã escureço/De dia tardo/De tarde anoiteço/De noite ardo"). Então, um dos jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e colocou-a no chão, para que Vinicius pudesse passar sobre ela — acto imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é uma forma tradicional de homenagem acadêmica.
Vinicius depois iniciou uma parceria com Toquinho. Desta parceria, surgiram clássicos, como "Como Dizia o poeta", "Tarde em Itapoã" e "Testamento".
Em 1970, Vinicius apresentou-se na casa de espectáculo carioca Canecão, com o parceiro Tom Jobim, o violonista Toquinho e a cantora Miúcha. O show, que relembrou a trajectória do poeta, ficou quase um ano em cartaz devido ao grande sucesso obtido. Outra apresentação marcante de Vinícus de Moraes, ao lado de Toquinho e da cantora Maria Creuza, foi em Buenos Aires, na boate La Fusa. O antológico concerto resultaria no LP ao vivo "Vinicius En La Fusa", uma das mais belas jóias gravadas ao vivo da música brasileira. No ano seguinte, Vinicius voltou a Fusa, para gravar um novo LP ao vivo, também com Toquinho, mas desta vez com a cantora Maria Bethânia . Em 1971, assinou com Chico Buarque, sobre antigo choro de "Garoto", a canção "Gente Humilde", grande sucesso gravada pelo próprio Chico e, pouco depois, por Ângela Maria.
A parceria Vinicius/Toquinho fez várias tournées e compôs muitas mais canções. Vinicius publicou, em 1977, o livro "O Breve Momento". Foram lançados vários albúns: "Antologia Poética", uma seleção da obra poética do «poetinha», que teve a participação especial de Tom Jobim, Francis Hime e Toquinho, "Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao Vivo no Canecão", "Vinicius e Amália", disco gravado em Lisboa com a cantora portuguesa Amália Rodrigues, "10 Anos de Toquinho e Vinicius"e "Arca de Noé", que trouxe diversos intérpretes para as composições infantis do poeta, musicadas a partir do livro homônimo.
Morte do "poetinha"
Na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes, começou a sentir-se mal na banheira da casa onde morava, vindo a falecer pouco depois. O poeta passara o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planeava os últimos detalhes do volume 2 do álbum, "Arca de Noé"..
Mesmo após a morte, a obra musical de Vinicius manteve o seu grande prestígio na música brasileira e vários albúns foram lançados.
Em 2005, "The Girl from Ipanema", versão em inglês de "Garota de "Ipanema", de Astrud Gilberto, Tom Jobim, João Gilberto e Stan Getz, realizada em 1963, foi escolhida como uma das 50 grandes obras musicais da Humanidade, pela Biblioteca do Congresso Americano.


«A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."
"Que não seja imortal, posto que é chama /Mas que seja infinito enquanto dure."
"O homem que diz sou, não é, porque quando é mesmo, não diz."

Soneto da separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


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