Crepuscular
Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
--- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
--- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
Voz Débil que Passas
Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças...
Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,
Se vens, às escuras,
Confiar-me ao ouvido
Não sei que amarguras...
Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?
Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...
_ Ser teu companheiro? _
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.
_ Passados amores? _
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...
Fraquinha, deliras.
_ Projectos felizes? _
Suspiras. Expiras.
Camilo Almeida Pessanha Nasceu em Coimbra e morreu em Macau.
Em Coimbra tirou o curso de Direito e em 1894 foi para Macau, para onde foi dar aulas de Filosofia. Depois foi nomeado conservador do registo predial e mais tarde Juiz da Comarca.
Passou a sua vida praticamente em Macau, embora viesse várias vezes ao Continente, por razões de saúde, deste modo conheceu Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, grandes apreciadores da sua poesia, que publicava em várias revistas e jornais. Essas poesias foram reunidas no seu único livro, Clepsidra. Apesar da pequena dimensão da sua obra é considerado um expoente máximo do Simbolismo e um dos grandes poetas portugueses.
Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, d'ais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.
As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.
Sentem-se espasmos, agonias d'ave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
--- Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.
As tuas mãos tão brancas d'anemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
--- É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.
Voz Débil que Passas
Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças...
Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,
Se vens, às escuras,
Confiar-me ao ouvido
Não sei que amarguras...
Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?
Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...
_ Ser teu companheiro? _
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.
_ Passados amores? _
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...
Fraquinha, deliras.
_ Projectos felizes? _
Suspiras. Expiras.
Camilo Almeida Pessanha Nasceu em Coimbra e morreu em Macau.
Em Coimbra tirou o curso de Direito e em 1894 foi para Macau, para onde foi dar aulas de Filosofia. Depois foi nomeado conservador do registo predial e mais tarde Juiz da Comarca.
Passou a sua vida praticamente em Macau, embora viesse várias vezes ao Continente, por razões de saúde, deste modo conheceu Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, grandes apreciadores da sua poesia, que publicava em várias revistas e jornais. Essas poesias foram reunidas no seu único livro, Clepsidra. Apesar da pequena dimensão da sua obra é considerado um expoente máximo do Simbolismo e um dos grandes poetas portugueses.
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