Uma poeta ostracizada, como também foi Raul Leal.
Judite começou a escrever cedo no Jornal da Tarde e paralelamente ia escrevendo um outro género de poesia, mais irreverente e que depois iria constituir os livros «Decadência e «Castelo de Sombras». "Decadência" não passou despercebido, sendo conhecida a intervenção política de arrogante moralismo, numa acção levada a cabo pela "Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa" e que acabou por incendiar o destino de obras de autores considerados "decadentes, como Raul Leal (Sodoma Divinizada) e António Botto. Em 1923 a autora viu publicado "Castelo de Sombras", um livro intencionalmente cauteloso, quando ainda se ouviam os ecos do escândalo causado por "Decadência". Em 1925 Judith Teixeira escreveu a maior parte dos poemas de "Nua". Entretanto editou e dirigiu "Europa" um magazine mensal de que se conhecem apenas três números. Em 1926 foi impresso o seu ultimo livro de poemas "Nua - Poemas de Bizâncio", de que se conhecem três edições. Entretanto foi instaurada a ditadura e a censura instalou-se. Sobem de tom as diatribes contra Judith Teixeira, mas a autora faz uma conferencia - "De Mim- as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral", que depois é publicada em livro.
Outros dos seus livros ficaram inéditos. Judith Teixeira morreu em Lisboa em 1959, no mais completo abandono. Esquecida durante décadas, foi com a revolução em 1974, que os autores condenados, regressaram do esquecimento. A autora foi lembrada por Couto Viana: "É irresistível: leio as poesias de Judith Teixeira e, separando muito trigo de muito joio, penso-as merecedoras de melhor sorte do que o silêncio, a ignorância a que têm estado votadas (..)". Ainda hoje, Judith Teixeira, continua a não estar representada em qualquer antologia. A edição de "Poemas", em 1996, agrupando: Decadência, Castelo de Sombras, Nua - Poemas de Bizâncio e Dispersos e De Mim, corresponde à mais elementar justiça, do silêncio que rodeou, durante largas décadas, Judith Teixeira.
Adoro o inverno.
Envolvo-me assim mais no teu carinho, friorenta e louca...
Nascem-me na alma os beijos que se vão aninhar na tua boca!...
Gosto da neve a diluir-se ao sol em risos de cristal!
Vem-me turbar a ânsia do teu rogo...
E a neve fulgente dos meus dentes trémulos,
vai fundir-se na taça ardente, rubra e original,
na qual eu bebo os teus beijos em fogo!
Tu adormentas a minha dor na doce sombra dos teus cabelos,
e eu envolvo-me toda nos teus braços para dormir e sonhar!...
- lá fora que não deixe de chover, e o vento que não deixe de clamar!
Deixá-lo gritar!
Que importa o seu clamor, se me abrasa o teu olhar vivíssimo?!...
Atei, meu amor, o fogo em que me exalto...
- Enrola-me mais... ainda mais... no teu afago;
que esta alegria do nosso amor suavíssimo,
será mais forte e gritará mais alto!
Inverno - Sol Posto
1925
Inverno - Sol Posto
1925
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Sobre Raul (de Oliveira Sousa) Leal (1886 - 1964), quase nada encontrei na Internet, tudo é muito sucinto: Concluiu o curso na Faculdade de Direito de Coimbra em 1909. Em 1914 exilou-se em França por motivos políticos. Foi colaborador da Revista Orpheu, onde publicou, no segundo número, o conto Atelier. Escreveu todos os seus versos em francês, na obra que é publicamente conhecida. Foi um dos introdutores do futurismo em Portugal.
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