«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quinta-feira, 19 de março de 2009

GIUSEPPE TOMASI di LAMPEDUSA (1896-1957)

Foi depois de ter visto o filme, O Leopardo (Il Gattopardo), que eu li o livro de Lampedusa.
Il Gattopardo, trata de uma família nobre cujo brasão ostenta o animal referido no título, destacando-se Don Fabrizio Corbera, Príncipe de Salina, no contexto do Risorgimento. Talvez o trecho mais memorável do livro, seja o discurso do sobrinho de Don Fabrizio, Tancredi, o arruinado e simpático oportunista príncipe de Falconeri, incitando seu tio céptico e conservador a abandonar a sua lealdade aos Broubons das «Duas Sicílias» e aliar-se à dinastia de Savóia: «A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude.»
O título, Il Gattopardo, refere-se tanto ao felino das Américas quanto ao africano. Gattopardo pode ser uma citação ao felino selvagem, que foi violentamente caçado na Itália até sua extinção, em meados do século XIX, exactamente a época em que Don Fabrizio, testemunhava impotente o declínio e a indolência da aristocracia siciliana.
A obra foi muito criticada pelos críticos literários por «combinar realismo com uma estética decadente». Entretanto, tornou-se muito popular entre os leitores comuns, a tal ponto que em 1963, «Il Gatopardo» foi imortalizado no cinema por Luchino Visconti e interpretado por Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale.
Em 1860, Garibaldi iniciou o movimento de unificação da Itália. D. Fabrizio (Burt Lancaster) é um aristocrata, que tenta manter o antigo modo de vida, apesar dos tempos de mudança. Para ele, a ascensão da burguesia é uma ameaça. Contudo, numa manobra astuta, combina o casamento do seu sobrinho Tancredi (Alain Delon) com Angélica (Claudia Cardinali), filha de um rico e influente administrador de propriedades. Fiel a seus valores, o aristocrata consegue assim manter acesa a chama do antigo regime.


Giuseppe Tomasi di Lampedusa, nasceu em Palermo, filho de Giulio Maria Tomasi, Príncipe de Lampedusa e de Beatrice Mastrogiovanni Tasca de Cutò. Tornou-se o único rebento do casal, após a morte da sua irmã. Era muito apegado à mãe, pessoa de personalidade forte, que muito influenciou os seus ideais, especialmente pelo pai se manter frio e distante. Em criança, Tomasi estudou na sua mansão em Palermo com um tutor (Literatura e Inglês), com a mãe (Francês) e com a sua avó, que costumava ler para o menino, romances de Emilio Salgari. No pequeno teatro da residência em Santa Margherita Belice, aonde ele passava as férias, assistiu pela primeira vez a representações teatrais. Depois foi estudar para a faculdade de Direito de Roma, onde se radicou. Passados dois anos foi convocado para o serviço militar, lutando na batalha de Caporetto, onde foi aprisionado pelos austríacos. Foi mantido preso num campo de prisioneiros de guerra na Hungria, mas planeou a fuga e retornou a pé à Itália. Depois de ser promovido a tenente, retornou para a Sicília, alternando períodos na ilha e viagens a casa da sua mãe, retomando os seus estudos de literatura estrangeira.
Na Letônia, casou com Alexandra Wolff Stomersee, apelido "Licy", uma estudante de psicanálise de uma família nobre de origem alemã. No início viveram com a mãe de Lampedusa, em Palermo, mas logo a incompatibilidade entre as duas mulheres, obrigou Licy a retornar à Letônia. Em 1934 o seu pai morreu e Tomasi recebeu o título principesco. Ele foi convocado a retornar ao Exército, mas como era o responsável por uma grande propriedade agrícola familiar, ficou em casa, para orientar os seus negócios. Devido à guerra, Tomasi e a sua mãe refugiaram-se em Capo d'Orlando, aonde ele pode voltar a Licy. Sobreviveram à guerra, mas seu palácio em Palermo não.
Após a morte da mãe em 1946, Tomasi voltou a viver com sua esposa em Palermo.
Depois passou a dedicar a maior parte de seu tempo a um grupo de jovens intelectuais, um dos quais era Gioacchino Lanza, com quem fomentou grande afinidade, acabando por o adoptar.
Na sua obra destaca-se o romance «Il Gattopardo», mas Tomasi também escreveu trabalhos menos conhecidos: I racconti; Le lezioni su Stendhal e Invito alle lettere francesi del Cinquecento. Escreveu ainda, um pequeno número de ensaios.
Em 1957, Tomasi di Lampedusa recebeu diagnóstico de câncer e faleceu em Roma.

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