«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

terça-feira, 17 de março de 2009

RAUL BRANDÃO (1867-1930)

Estátua dedicada a Raul Brandão, trabalho do escultor HENRIQUE MOREIRA (Foz do Douro)

Raul Germano Brandão nasceu na Foz do Douro em 1867, localidade onde passou a sua adolescência. Filho e neto de homens do mar, o oceano e os homens do mar, foram um tema recorrente da sua obra.
Depois de uma passagem menos feliz por um colégio do Porto, Raul Brandão aderiu ao grupo dos nefelibatas e desperta para o mundo das letras, publicando as suas primeiras obras. Termina o curso secundário e depois de uma breve passagem, como ouvinte, pelo Curso Superior de Letras, matricula-se na Escola do Exército. Com este ingresso, ao que parece a contragosto, inicia uma carreira militar, com longas permanências no Ministério da Guerra. Paralelamente, mantém uma carreira de jornalista e vai publicando extensa obra literária.
Em 1896 foi colocado no Regimento de Infantaria 20, em Guimarães, cidade onde conheceu a sua futura esposa. Aí se fixará em definitivo, embora com prolongadas estadias em Lisboa e noutras cidades. Reformado no posto de capitão, inicia a fase mais fecunda da sua produção literária.
Raul Brandão visitou os Açores, no âmbito das visitas dos intelectuais então organizadas sob a égide dos autonomistas. Dessa viagem resultou a publicação das obras: As ilhas desconhecidas e Notas e paisagens, obras que influíram na formação da imagem interna e externa dos Açores. Basta dizer, que As ilhas desconhecidas,inspiraram o conhecido código de cores das ilhas açorianas: Terceira, ilha lilás; Pico, ilha negra; S. Miguel, ilha verde...
Morreu em 1930, aos 63 anos de idade, deixando uma extensa obra literária e jornalística.
Obras publicadas: Impressões e Paisagens; História de um Palhaço; O Padre ; A Farsa ; Os Pobres ; El-Rei Junot ; A Conspiração de 1817 ; Húmus; Os Pescadores; Memórias I,II, III: As Ilhas Desconhecidas ; A Morte do Palhaço e o Mistério das Árvores; O Avejão (teatro) e O Pobre de Pedir, entre outros.

Li o livro, HÚMUS, que considero uma «obra-prima» da nossa literatura; ou melhor: uma obra-prima de qualquer literatura. Diário? Romance? Inclassificável? A nebulosa adensa-se quando um dos mais importantes estudiosos e biógrafo de Raul Brandão, Guilherme de Castilho, escreve: “Um romance (...) de maneira nenhuma poderá ser considerado.” E acrescenta: “Embora seja este o género de que mais se aproxima.”
Outra interpretação
: “Se quisermos pôr-nos em uníssono com a nomenclatura, tão em voga, lançada por Sartre (...), julgo que podemos chamar ao ‘Húmus’ um verdadeiro ‘anti-romance’.”
E o que pode representar “Húmus” depois da pós-modernidade? Uma feroz e angustiante contemporaneidade. “Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste...” Assim começa “Húmus”. “Ouves o grito? Ouve-lo mais alto, sempre mais alto e cada vez mais fundo?...É preciso matar segunda vez os mortos.” Assim acaba o livro com esta sentença. Em Húmus todas as «leituras» são possíveis. “Agora não contenho a multidão que constitui a minha alma. Não estou só e ouço-os que clamam cada vez mais alto.” Aqui e agora, nós, vivos ou mortos, estamos entre eles. Famoso pelo realismo das suas descrições e pelo lirismo das suas personagens.

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