Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro·
Em todas as ruas te perco·
conheço tão bem o teu corpo·
sonhei tanto a tua figura·
que é de olhos fechados que eu ando·
a limitar a tua altura·
e bebo a água e sorvo o ar·
que te atravessou a cintura·
tanto, tão perto, tão real·
que o meu corpo se transfigura·
e toca o seu próprio elemento·
num corpo que já não é seu·
num rio que desapareceu·
onde um braço teu me procura·
Em todas as ruas te encontro·
Em todas as ruas te perco·
Lembra-te·
que todos os momentos·
que nos coroaram·
todas as estradas·
radiosas que abrimos·
irão achando sem fim·
seu ansioso lugar·
seu botão de florir·
o horizonte·
e que dessa procura·
extenuante e precisa·
não teremos sinal·
senão o de saber·
que irá por onde fomos·
um para o outro·
vividos·
poema
Faz-se luz pelo processo·
de eliminação de sombras·
Ora as sombras existem·
as sombras têm exaustiva vida própria·
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela·
intensamente amantes
loucamente amadas·
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta·
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem·
Por outro lado a sombra dita a luz·
não ilumina
realmente
os objectos·
os objectos vivem às escuras·
numa perpétua aurora surrealista·
com a qual não podemos contactar·
senão como amantes·
de olhos fechados·
e lâmpadas nos dedos
e na boca·
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