«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

domingo, 26 de abril de 2009

BERNARDO SANTARENO (1924-1980)

Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário é considerado o maior dramaturgo do século XX e está completamente esquecido.
Bernardo Santareno nasceu em 1924, em Santarém, no Ribatejo. Estudou no Liceu em Santarém, após o que frequentou os cursos preparatórios para a Faculdade de Medicina, na Universidade de Lisboa. Em 1945 transferiu-se para a Universidade de Coimbra, onde se licenciou em medicina psiquiátrica.
Em 1957 e 1958, a bordo dos navios David Melgueiro, Senhora do Mar e do navio hospital Gil Eanes, acompanhou as campanhas de pesca do bacalhau como médico. A sua experiência no mar serviu de inspiração a muitas das suas obras, como O Lugre, A Promessa e o volume de narrativas, Nos Mares do Fim do Mundo.
Intelectual de esquerda, teve várias vezes problemas com o regime salazarista, tendo a sua peça, A Promessa, sido retirada de cena após a estreia, por pressão da Igreja Católica. Depois da Revolução de 1974 militou activamente no partido MDP/CDE.
Foi distinguido por três vezes com o Prémio Imprensa.
Morreu em Oeiras, em 1980, com 59 anos de idade.


Santareno deixou inédito um dos seus mais vigorosos dramas, O Punho, cuja acção se localiza no quadro revolucionário da Reforma Agrária, em terras alentejanas. Revelou-se como autor de teatro, depois de publicar três livros de poesia: Morte na Raiz, Romances do Mar, Os Olhos da Víbora, onde se enunciam alguns temas e motivos dominantes da sua obra dramática.
Reconhecido como o mais pujante dramaturgo português do século XX, a sua obra reparte-se por dois ciclos, menos distanciados um do outro do que a evolução estética e ideológica do autor terá feito supor, já que as peças compreendidas em qualquer deles respondem à mesma questão essencial: a reivindicação feroz do direito à diferença e do respeito pela liberdade e a dignidade do homem face a todas as formas de opressão, a luta contra todo o tipo de discriminação, política, racial, económica, sexual ou outra.
Esta temática exprime-se, nas peças integrantes do primeiro ciclo: (A Promessa, O Bailarino, A Excomungada, O Lugre, O Crime de Aldeia Velha, António Marinheiro ou o Édipo de Alfama, Os Anjos e o Sangue, O Duelo, O Pecado de João Agonia e Anunciação), através de um naturalismo poético, apoiado numa linguagem extremamente plástica e coloquial e estruturado sobre uma acção de ritmo ofegante que atinge, nas cenas finais, um clima de trágico paroxismo.
A partir de 1966, com a "narrativa dramática" O Judeu, que retrata o calvário do dramaturgo setecentista António José da Silva, queimado pelo Santo Ofício, o autor plasma as suas criações no molde do teatro épico de matriz brechteana, adaptando-o ao seu estilo próprio, e assume uma posição de crescente intervencionismo, que irá retardar até à queda do regime fascista a representação dessa e das suas peças seguintes: O Inferno, A Traição do Padre Martinho e Português, Escritor, 45 Anos de Idade, drama carregado de notações autobiográficas e que seria o primeiro original português a estrear-se depois de restaurada a ordem democrática no país.
Em 1979, depois de uma curta incursão no teatro de revista, publica quatro peças em um acto sob o título genérico, Os Marginais e a Revolução (Restos, A Confissão, Monsanto e Vida Breve em Três Fotografias), em que combina elementos das duas fases da sua obra.

Santareno, ele próprio um homossexual, aborda a temática da homossexualidade em muitas das suas peças, antevendo a importância que esta questão — e outras relacionadas com os direitos e as liberdades individuais face aos preconceitos morais e sociais da época, como o adultério, a virgindade, o papel da mulher no casamento, a moral religiosa, e outros — viriam a ter num futuro mais ou menos próximo. A homossexualidade desempenha papel central no drama de algumas das suas obras, como em O pecado de João Agonia, em que o "pecado" é a orientação sexual de João, ou em Vida Breve em Três Fotografias, em que prostituição masculina é o ponto fulcral.

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