«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quinta-feira, 9 de abril de 2009

STENDHAL [Henri-Marie Beyle] - (1783-1842)


Órfão de mãe aos seis anos, foi criado pelo pai e por uma tia. Rejeitou as ideias monárquicas e religiosas, que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal, Grenoble. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção do seu pai. Fez os seus estudos em Grenoble e depois foi para Paris e ingressou na Escola Politécnica, que não concluiu por doença. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protector, começou a trabalhar no ministério de Guerra.
Em 1800 foi ajudante do general Michaud na Itália, país que escolheu como pátria. Passado um ano, abandonou o exército. Voltou a Paris e frequentou os salões e os teatros, sempre apaixonado por uma mulher diferente.Tentou (sem sucesso) a vida literária. Em precária situação económica, Daru conseguiu-lhe um novo posto, como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu dois anos. Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Depois da queda de Napoleão, exilou-se em Itália, e efectuou várias viagens pela península italiana. Publicou os seus primeiros livros de crítica de arte sob pseudónimo e depois escreveu o ensaio original, Roma, Nápoles e Florença, onde misturou a crítica com recordações pessoais, utilizando pela primeira vez o pseudónimo de Stendhal. O governo austríaco acusou-o de apoiar o movimento independentista italiano, teve que abandonar Itália, passou por Londres e instalou-se de novo em Paris, quando terminou a perseguição aos aliados de Napoleão.
Fazia uma vida de dandy, sobrevivendo com os rendimentos de colaborações em algumas revistas literárias. Em 1822 publicou "Sobre o amor", ensaio baseado em boa parte em suas próprias experiências e no qual expressava ideias bastante avançadas; nesse livro destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo qual o espírito, adaptando a realidade a seus desejos, cobre de perfeições o objecto do desejo.
Afirma-se como escritor com, Vida de Rossini e Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a actriz Clémentine Curial, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e a Itália e redigiu o seu primeiro romance, Armance. Stendhal estava sem dinheiro, sem sucesso, foi-lhe recusado um posto na Biblioteca Real e o seu protector conde Daru, tinha morrido.Superou este período difícil, com os cargos de cônsul que obteve primeiro em Trieste e mais tarde em Civitavecchia, enquanto se entregava sem reservas à literatura.
Em 1830 apareceu a sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo seco e directo. Em 1839 publicou, A Cartuxa de Parma, muito mais novelesco, que a sua obra anterior, que escreveu em apenas dois meses e que por sua espontaneidade constitui uma confissão poética extraordinariamente sincera.
Ambos são romances que compartilham de rasgos românticos e realistas; nelas aparece um novo tipo de herói, tipicamente moderno, caracterizado por seu isolamento da sociedade e seu confronto com suas convenções e ideais, no que muito possivelmente se reflecte em parte a personalidade do próprio Stendhal.

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