«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

sábado, 25 de abril de 2009

JOSÉ SARAMAGO (1922-)


Neste dia é pertinente, na minha senda pelas pessoas que se dedicaram à escrita, registar também aqui o nosso Prémio Nobel, que é um homem coerentemente de esquerda desde sempre, aprove-se ou não a esquerda que escolheu. Saramago, é ateu e ibérico e é membro do Partido Comunista Português, foi também, juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).
José de Sousa Saramago nasceu numa aldeia do Ribatejo, chamada Azinhaga, de uma família pobre. A vida simples (com dois anos mudou-se para Lisboa), impediu-o de ingressar numa universidade, apesar do gosto que demonstrou desde cedo pelos estudos. Para garantir o seu sustento, formou-se em numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi como mecânico de carros. Entretanto, fascinado pelos livros, à noite visitava com grande frequência a Biblioteca Municipal. Autodidacta, aos 25 anos publicou o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no ano do nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis. Em 1955, começou a fazer traduções para aumentar os rendimentos – Hegel, Tolstoi e Baudelaire, entre outros autores a quem se dedicou.
Depois de Terra do Pecado, Saramago apresentou ao seu editor o livro Clarabóia, que foi rejeitado e permanece inédito até hoje. Saramago persiste nos esforços literários e, 19 anos depois – então funcionário da Editorial Estudos Cor - troca a prosa pela poesia e lança, Os poemas Possíveis, a seguir irá publicar mais dois livros de poesia. Troca de emprego, para ingressar nos jornais Diário de Notícias e depois no Diário de Lisboa. Em 1975, retorna ao Diário de Notícias como director-adjunto, onde permaneceu por dez meses, até 25 de Novembro do mesmo ano, quando os militares portugueses intervêm na publicação (reagindo ao que consideravam os excessos da Revolução dos Cravos) demitindo vários funcionários. Demitido, Saramago resolve dedicar-se apenas à literatura, substituindo de vez o jornalismo pelo ficcionismo. Escreve crónicas, contos, teatro, mas foi através do romance que se tornou um dos autores portugueses de maior destaque. Três décadas depois de publicado, Terra do Pecado, Saramago retornou ao mundo da prosa ficcional com: Manual de Pintura e Caligrafia. Mas, as marcas características do seu estilo só apareceram com, Levantado do Chão (1980), livro no qual o autor retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo.
Dois anos depois surgiu Memorial do Convento, livro que conquistou definitivamente a atenção de leitores e críticos. De 1980 a 1991, o autor publica mais quatro romances que remetem a factos, problematizando a interpretação da "história" oficial: O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) ; A Jangada de Pedra (1986) ; História do Cerco de Lisboa (1989) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) - onde Saramago reescreve o livro sagrado sob a óptica de um Cristo humanizado (sua obra mais controversa).
Nos anos seguintes, entre 1995 e 2005, Saramago publicará mais seis romances, dando início a uma nova fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou épocas determinados e personagens da história se ausentam: Ensaio sobre a Cegueira (1995); Todos os Nomes (1997); A Caverna (2001); O Homem Duplicado (2002); As Intermitências da Morte (2005). Depois ainda escreveu: As Pequenas Memórias e A Viagem do Elefante.

Saramago é conhecido por utilizar frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros: este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Estas características tornaram o estilo de Saramago único na literatura contemporânea: é considerado por muitos críticos um mestre no tratamento da língua portuguesa. Em 2003, o crítico norte-americano Harold Bloom, considerou José Saramago "o mais talentoso romancista vivo nos dias de hoje" referindo-se a ele como "o Mestre".
Dentre os prémios que recebeu, destacam-se o Prémio Camões (1995) - distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa e o Prémio Nobel de Literatura (1998) - o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.
O seu livro, Ensaio sobre a Cegueira, foi adaptado ao cinema pelo realizador Fernando Meirelles e O Memorial do Convento, foi adaptado a ópera.
Saramago casou em 1988 com a jornalista e tradutora espanhola Maria del Pilar del Rio Sanchez e reside em Lanzarote (Espanha).

Certas polémicas, tem envolvido a vida deste escritor. As suas opiniões pessoais sobre religião ou sobre a luta internacional contra o terrorismo são discutidas e algumas resultam mesmo em acusações de diversos quadrantes. Logo após a atribuição do Prémio Nobel, o Vaticano repudiava a atribuição da honraria a um "comunista inveterado".
O livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi adaptado para o teatro em 2001. A peça foi motivo de uma crítica ferrenha por parte de grupos religiosos, que consideram a obra uma ofensa à Igreja e Saramago resolveu deixar Portugal e ir viver para a Ilha de Lanzarote (Espanha).
Outro caso que tem tido alguma repercussão relaciona-se com a posição crítica do autor em relação à posição de Israel no conflito contra os palestinianos. Numa entrevista ao jornal O Globo, afirmou que: os Judeus não merecem a simpatia pelo sofrimento por que passaram durante o Holocausto... Vivendo sob as trevas do Holocausto e esperando ser perdoados por tudo o que fazem em nome do que eles sofreram parece-me ser abusivo. Eles não aprenderam nada com o sofrimento dos seus pais e avós. Foi atacado de anti-semita. Em defesa de Saramago, diversos autores afirmaram que ele não se insurge contra os judeus, mas contra a política de Israel.
É defensor de uma integração de Portugal numa Federação Ibérica, considerando que Portugal só teria a ganhar com isso.
Sempre atento às injustiças da era moderna, vigilante das mais diversas causas sociais, Saramago não se cansa de investir, usando a arma que lhe coube usar, a palavra.

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