«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ANTÓNIO NOBRE (1867-1900)

António Pereira Nobre, mais conhecido como António Nobre, foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista, decadentista e saudosista da geração do século XIX português. A sua principal obra, (Paris, 1892), é marcada pela lamentação e nostalgia, imbuída de subjectivismo, mas simultaneamente suavizada pela presença de um fio de auto-ironia, fazendo uma ruptura com a estrutura formal do género poético em que se insere, traduzida na utilização do discurso coloquial e na diversificação estrófica e rítmica dos poemas. Apesar da sua produção poética mostrar uma clara influência de Almeida Garrett e de Júlio Dinis, ela insere-se decididamente nos cânones do simbolismo francês. A sua principal contribuição para o simbolismo lusófono foi a introdução da alternância entre o vocabulário refinado dos simbolistas e um outro mais coloquial, reflexo da sua infância junto do povo nortenho.
António Nobre nasceu na cidade do Porto. A sua família era abastada. Passou a sua infância em Trás-os-Montes e na Póvoa de Varzim. Em 1888 matriculou-se no curso de Direito em Coimbra, mas não se inseriu na vida estudantil, reprovando por duas vezes. Optou então por partir, para Paris, onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas, licenciando-se em Ciências Políticas. Durante a sua permanência em França, familiarizou-se com as novas tendências da poesia. Foi também em Paris que contactou com Eça de Queirós, cônsul de Portugal naquela cidade escreveu a maior parte dos poemas que viriam a constituir a colectânea, SÓ, que publicaria naquela, em Paris em 1892 (seu único livro publicado em vida) .
No seu regresso a Portugal decidiu enveredar pela carreira diplomática, tendo participado, sem sucesso, num concurso para cônsul. Entretanto adoeceu com tuberculose pulmonar, doença que o obriga a ocupar o resto dos seus dias, em viagens entre sanatórios na Suíça, na Madeira, passando por New York, pelos arredores de Lisboa e pela casa da família no Seixo, procurando em vão, na mudança de clima, o remédio para o seu mal.
Morreu na Foz do Douro em 1900, com apenas 33 anos de idade. Deixou inédita a maioria da sua obra poética. Apesar da morte prematura e de só ter publicado em vida uma obra, o poeta, influenciou os grandes nomes do modernismo português, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. António Nobre referindo-se ao seu único livro publicado em vida, SÓ, declara que: é o livro mais triste que há em Portugal. Apesar disso e de ser real o sentimento de tristeza e de exílio, que perpassa em toda a sua obra, ela aparece marcada pela memória de uma infância feliz no norte de Portugal. Na sua poesia concede grande atenção ao real, descrito com minúcia e afecto, mesmo se à distância da memória e do sentimento do exílio, que entretanto o invadira. Este sentimento, estará presente em toda a sua obra, mesmo naquela que foi escrita após o seu regresso a Portugal.
A tuberculose pulmonar apenas se manifestou depois de publicada a primeira edição do livro, portanto como alguns pensam, não influenciou a sua poesia, em toda a obra de António Nobre está presente a procura de um regresso a um passado feliz, que transfigura a realidade, poetizando-a e aproximando-a da intimidade do poeta. Estas características da sua obra, reflectem as influências simbolistas e decadentistas.
Em todos os seus livros ( e os póstumos, Primeiros Versos e Despedidas), bem como no seu abundante epistolário, está presente um sentimentalismo aparentemente simples, reflectido nos temas recorrentes da sua obra: a saudade, o exílio, a pátria e a poesia. Este sentimentalismo ganha uma dimensão mítica, por vezes um certo visionarismo, na procura de um passado pessoal entretanto perdido pelo desenraizamento da sua pátria ou pelo sentimento de amargura que a sua estagnação lhe causa.

Sem comentários: