«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

sexta-feira, 1 de maio de 2009

ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS (1920-)





Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas, nasceu na Amadora em 1920 é um "homem que pinta" (não gosta da designação de pintor) e poeta português, militante do movimento artístico do surrealismo, de meados do século XX.
Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde conheceu Mário Cesariny e com quem frequentou o Grupo Surrealista de Lisboa. Mais tarde, aderiu ao antigrupo (dissidente) "Os Surrealistas", fundado por Cesariny. Em 1950 partiu para África, como marinheiro mercante, fixando-se em Angola, onde no ano seguinte expôs individualmente pela primeira vez.Regressou a Portugal em 1964.
Para Cruzeiro Seixas, a homossexualidade era "a arma mais terrível contra tudo o que havia à minha volta e com que eu não estava de acordo - chamasse-se ou não fascismo. Era uma atitude de revolta", que utilizava, tal como Cesariny, para escandalizar e provocar a sociedade portuguesa conservadora e religiosa, da época.

UM DOS SEUS POEMAS:
A tua boca adormeceu

A tua boca adormeceu
parece um cais muito antigo
à volta da minha boca.

Mas as palavras querem voltar à terra
ao fogo do silêncio que sustém as pontes
perdidas na sua própria sombra.

E há um cão de pedra como um fruto
que nos cobre com o seu uivo
enquanto pássaros de oiro com mãos de marfim
transplantam as árvores transparentes
para o ponto mais fundo do mar.

As lágrimas que não chorei
arrependidas
fazem transbordar a eterna agonia do mar
como um lençol fúnebre
com que tivesse alguém coberto o rosto metafórico
dos cinco continentes que em nós existem.

Assim é ao mesmo tempo
que sou eu e não o sou
aquele relógio das horas de oiro
que além flutua.

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