Mário de Sá-Carneiro, nasceu no seio de uma família da alta-burguesia, perdeu a mãe aos dois anos e foi viver com os avós. Foi precoce, aos 12 anos começou a escrever poesia e com 15/16 anos, traduziu Victor Hugo, Goethe e Schiller. Após o liceu foi para Coimbra, para estudar Direito, aí chegam os problemas, não chegou a concluir o 1º. Ano. Decidiu então ir para Paris, frequentar Sorbonne, mas acabou por deixar as aulas e dedicar-se a uma vida boémia. A família, embora com posses, não lhe dava o dinheiro suficiente, para as suas extravagâncias. Teve uma ligação com uma prostituta, que em vez de o ajudar, mais acentuou as suas frustrações e desesperos. Socialmente inadaptado e psicologicamente instável, foi nesta situação que compôs toda a sua obra, entre 1912 a 1916, quando decidiu suicidar-se com cinco frascos de arseniato de estricnina, no hotel onde vivia.
Mário de Sá Carneiro tinha conhecido, antes de ir para Paris, Fernando Pessoa, que o introduziu no círculo dos modernistas. De 1913 a 1914 veio a Lisboa frequentemente e com Pessoa e Almada Negreiros integrou o primeiro grupo de modernistas (grupo influenciado pelas vanguardas culturais europeias, que pretendia escandalizar o meio literário da época). Editaram a revista Orpheu e ficaram conhecidos pela, Geração de Orfeu. Desta revista só saíram dois números a público, ficando um terceiro por publicar. Na altura os criadores da revista sofreram a chacota social, muito mais tarde, a revista é considerada um marco da história da literatura, responsável pela agitação do meio cultural e pela introdução do modernismo.
Depois da sua morte, Pessoa dedicou-lhe um belo texto, que apelidou de «génio não só da arte como da inovação dela» e dizendo dele, retomando um aforismo das Báquides, de Plauto, que «Morre jovem o que os Deuses amam».
Mário de Sá-Carneiro em vida só teve o reconhecimento de uma elite, nem toda a sua obra foi publicada, mas passados uns anos foi considerado um dos maiores expoentes da literatura moderna em língua portuguesa.
As suas influências literárias foram várias: Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Charles Baudelaire, Stéphane Mallarmé, Fiódor Dostoievski, Cesário Verde e António Nobre. Este escritor influenciou vários escritores, como Eugénio de Andrade.
OBRA:
Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revelou influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo ou o saudosismo, então em franco declínio, posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo e o futurismo.
Nessas pôde exprimir a sua personalidade, sendo notórios a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação, ao mesmo tempo que revelava um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia no seu «eu». A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesim de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava – sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio.
Embora não se afaste da métrica tradicional (redondilhas, decassílabos, alexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus ataques à gramática, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse estilo clássico, numa segunda, claramente niilista, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade autêntica, triste e trágica.
As cartas que trocou com Pessoa, são como que um autêntico diário onde se nota o crescimento das suas frustrações interiores.
Obras - Amizade (1912) - Mário de Sá-Carneiro divide a autoria desta obra com Tomás Cabreira Júnior (que também se suicidou e destruiu toda a sua obra), seu colega do Liceu Camões em Lisboa. Princípio (1912) (conjunto de novelas). A Confissão de Lúcio (romance, cuja temática gira em torno do fantástico e é um óptimo espelho da época de vanguarda que foi o modernismo português. Dispersão (1914) (a sua primeira obra de poesia). Céu em Fogo (1915) [12 novelas]
Obras Póstumas - Indícios de Oiro (1937) [conjunto de trabalhos muito significativos no conjunto da sua obra]. Correspondência.
domingo, 17 de maio de 2009
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