«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A DIVINA COMÉDIA DE DANTE

DANTE E VIRGÍLIO – DELACROIX

A Divina Comédia é um poema épico e teológico, da literatura italiana e da literatura mundial, escrito por Dante Alighieri. Dante escreveu a "Comédia" (comédia porque acaba no Paraíso, quando acaba mal é Tragédia) no seu dialecto local e assim demonstrou, que a língua toscana (matriz do italiano actual) era adequada para o mais elevado tipo de expressão e que não era necessário usar o latim. O seu poema inspirou vários artistas. A Divina Comédia é hoje a fonte original mais acessível, para a uma visão medieval. Descreve a viagem de Dante através do Inferno, Purgatório, e Paraíso. No início é guiado pelo poeta romano Virgílio, autor do poema épico Eneida, através do Inferno e do Purgatório e depois no Paraíso, pela mão da sua amada Beatriz.
Em termos gerais, os leitores modernos, preferem a descrição, do"Inferno", onde as paixões se agitam de forma angustiada, num ambiente quase cinematográfico. Os outros dois livros, o Purgatório e o Paraíso, já exigem outra abordagem: contêm subtilezas ao nível filosófico e teológico, metáforas dificilmente compreensíveis para a nossa época, requerendo alguma pesquisa. O Purgatório é considerado, o mais lírico e humano, é também onde aparecem mais poetas. O Paraíso, o mais teológico de todos, está repleto de visões místicas, raiando o êxtase.
A obra está dividida em três partes, (Inferno, Purgatório e Paraíso). Cada uma das suas partes está dividida em cantos, compostos em tercetos. A composição do poema é baseada no simbolismo do número 3. Cada estrofe tem três versos e cada uma das suas três partes contêm 33 cantos, excepto o Inferno, que possui um canto a mais, que serve de introdução ao poema.

INFERNO
Dante e Virgílio, chegam ao vestíbulo do Inferno (que tem nove círculos). Entre o vestíbulo e o 1°Círculo, está o rio Aqueronte, no qual se encontra Caronte, o barqueiro que faz a travessia das almas. O limbo é o local onde as almas que não puderam escolher a Cristo, mas escolheram a virtude, vivem a vida, que imaginaram ter após a morte. Não têm a esperança de ir para o céu, porque não tiveram fé em Cristo. Aqui também ficam os não baptizados e aqueles que nasceram antes de Cristo, como Virgílio. Na mitologia clássica, o Limbo não fica no inferno, mas suspenso entre o céu e o mundo dos mortos. Na poesia de Dante, não se tem uma noção precisa de como se chega lá, pois o poeta desmaia no ante-inferno e quando acorda já está no Limbo, o primeiro círculo infernal.
No Limbo, Dante encontra: Homero, a quem se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia; Ovídio, poeta romano autor de várias obras, entre as quais, Metamorfoses e Horácio, poeta romano lírico e satírico, autor de várias obras-primas, entre as quais, Ars Poetica. No segundo círculo começa o Inferno propriamente dito. Nesse círculo ficam os luxuriosos, que sofrem com uma tempestade de vento. Lá ele encontra Francesca de Rimini e o seu amante. No terceiro círculo, os gulosos são flagelados por uma chuva putrefacta e são vigiados pelo mitológico cão de três cabeças, Cérbero. No quarto círculo desfilam os avarentos empurrando pesos enormes. No quinto círculo ficam os iracundos, os insolentes e os soberbos, imersos em lama ardente do Pântano do Estige. Para atravessar o pântano eles apanham boleia do demónio Etagias, que os deixa na porta da cidade de Dite. Essa cidade tem muralhas de fogo e está na parte mais funda do Inferno, onde as culpas e as punições são muito mais fortes. Os demónios não querem que Dante nem Virgílio entrem, pois Dante não está morto. Então aparecem as três Fúrias (também chamadas Parcas), e com elas aparece a Medusa, que petrifica quem a olhe. Um enviado celeste chega e abre as portas de Dite. No sexto círculo, Dante e Virgílio recomeçam a viagem por dentro de Dite. Lá eles vêem nos túmulos de fogo os hereges. Os hereges eram queimados em fogueiras, quando estavam vivos. Em rios de fogo estão os assassinos, os violentos com o próximo, que são atingidos pelas flechas dos centauros. Os violentos, contra si mesmos, são transformados em árvores. Os esbanjadores são perseguidos e devorados, por cadelas ferozes e famintas. No sétimo círculo ficam os usurários (agiotas), os violentos com Deus e contra a natureza (os homossexuais). Estão deitados e levam chuva de fogo. Saindo da cidade encontram num precipício, um monstro alado, que voa vagarosamente e os leva até ao fundo do precipício e lá encontram o oitavo círculo. O oitavo círculo é dividido por dez fossos, que são ligados por pontes. Aqui as torturas só pioram e os pecados também. Nas saídas dos fossos há três gigantes acorrentados. No último círculo infernal (nono) não há fogo, e sim frio. Lá ficam os traidores. Os três maiores são: Judas, Brutus e Cassius. Lúcifer está lá e devora os três. Então eles finalmente chegam ao centro da Terra e começam a subir para a saída. Nesse túnel eles vislumbram quatro estrelas, o Cruzeiro do Sul. Para chegar ao Paraíso é necessário antes passar pelo Purgatório.


PURGATÓRIO

Segundo Dante, o Purgatório é um espaço intermediário, entre o Paraíso e o Inferno, que se encontra numa ilha. Dante encontra nesta ilha uma montanha composta por círculos ascendentes, reservado àqueles que se arrependeram em vida de seus pecados e estão em processo de expiação. No Purgatório as almas assistem às punições das outras almas, que por pecarem mais "intensamente", foram para o Inferno. No início da subida da montanha, estão à espera arrependidos tardios, que têm que aguardar a permissão para passarem pela Porta de São Pedro, antes de iniciarem a sua ansiada subida. Cada um dos sete círculos, corresponde a um dos Sete pecados capitais: Orgulho, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula e Luxúria. No fim do Purgatório, Dante se despede de Virgílio, pois este não pode ter acesso ao Paraíso. Lá encontra Beatriz, a sua amada. Esta leva-o até o rio Lete. Quando Dante bebe a água do Lete, esta apaga a sua memória, os seus pecados e é como se Dante tivesse renascido. Finalmente Dante chega ao Paraíso.


PARAÍSO

Existem sete céus móveis, cada céu corresponde a um planeta, sendo o primeiro o da Lua. Em cada um dos céus, Dante é abençoado e depois vai ao encontro de Deus. O oitavo céu móvel ou o primeiro céu fixo, é onde as estrelas têm a configuração, que vemos no "nosso" céu. Depois vão para o segundo céu fixo, ou nono céu móvel, que é o céu Cristalino, não tem estrelas, é quase só luz, mas é material. O décimo céu é só luz, é o terceiro céu fixo, e é imaterial. No centro desse céu há uma rosa branca, que é Deus rodeado por almas, espíritos bons, eleitos, bem-aventurados, santos e anjos. É uma rosa poética. No centro da rosa existe um triângulo, a Santíssima Trindade. São Bernardo acompanha Dante a partir do terceiro céu. Dante então vê Deus, pois São Bernardo intercede junto à Virgem Maria e esta concede sua visita.

(OBVIAMENTE QUE ESTA OBRA, COMO OUTRA QUALQUER DO GÉNERO DEVE SER LIDA NO ORIGINAL, O QUE CONVENHAMOS NÃO É FÁCIL.)

[Dante, como expoente da literatura universal, foi utilizado como referência cultural e didáctica, pela autora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andressen, que o utilizou como personagem, no livro infanto-juvenil "O Cavaleiro da Dinamarca", onde é apresentado às jovens gerações como alguém que terá tido contacto com realidades transcendentes ou não as tendo tido, deixou uma obra por si mesma transcendente].

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