Nasceu em Berlim, de uma família judia, não radical, de tal forma que a deixaram estudar o cristianismo e os seus primeiros versos foram marcados por traços místicos, inspirados em relatos bíblicos.
Admiradora da escritora sueca, Selma Lagerlöf, escreveu-lhe e ficaram amigas para sempre. A sua poesia passou também pela influência dos Românticos alemães: Goethe e Schiller. O primeiro livro que publicou, no entanto, não foi de poemas, mas de contos.
O pai morreu em 1930 e Nelly continuou a viver com a mãe. Nunca chegou a casar e a razão parece estar ligada a uma desilusão amorosa, que motivou que se tornasse melancólica. Em 1933, Hitler foi eleito e inicialmente foi recebido, como uma solução ideal, para a depressão em que o país vivia, no entanto essas esperanças morreram cedo e a perseguição aos judeus motivaram que Nelly se voltasse para o Judaísmo. A situação tornou-se perigosa, com a perseguição e morte dos judeus nos campos de concentração e Nelly conseguiu que Selma Lagerlöf, que nessa altura tinha 82 anos, obtivesse um visto, para ela e a mãe irem para Estocolmo. Quando chegaram, Selma tinha morrido dias antes, assim as duas nunca se chegaram a conhecer pessoalmente. Nelly viveu à custa de traduções e da publicação dos seus livros, que não mais deixaram de abordar o Holocausto. Não a movia o ódio, nem a vingança, mas um lamento suave, como uma oração, por toda a prática de indecência humana.
Em 1954 começou a sua correspondência com Paul Celan, poeta alemão, que esteve num campo de concentração e cujos pais foram mortos pelos nazis.
Com o seu livro «Voo e Metamorfose», consolidou-se como poeta e recebeu dois prémios na Alemanha, foi a primeira vez que voltou à Alemanha.
Em 1966 foi distinguida com o Prémio Nobel.
Morreu em 1970, por coincidência nesse mesmo ano, suicidou-se Paul Celan.
Sobre a sua poesia disse: Tenho-me esforçado constantemente por elevar o indizível a um nível transcendental, de modo a torná-lo tolerável e, nesta noite das noites, a dar alguma ideia da escuridão sagrada em que se escondem, sofrendo, os perseguidos.
Já do braço do divino conforto envolvida
Está a mãe louca
Com os farrapos da sua razão rasgada,
Com as chispas da sua razão queimada
Amortalhando o filho morto,
Amortalhando a luz perdida,
Torcendo as mãos em cântaros,
Enchendo do ar com o corpo do filho,
Enchendo do ar com os olhos, com os cabelos dele
E com o seu coração adejante -
Então beija o que nasceu do ar
E morre!
Tradução de Paulo Quintela
[Poemas de Nelly Sachs - Colecção Poetas de Hoje - Portugália]
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário